Ano 01 Nº 002/2013 – Não concorde comigo!

Marco Bonito

Professor – Unipampa campus São Borja

Não espero de você mais do que respeito e não desejo comunhão de ideias rasas.  Almejo o debate, sim; aquele embate franco e repleto de diálogos polissêmicos e multiparatextuais que lhe façam incomodar o suficiente para que saias da zona de conforto que o abraça caridosamente.

Não me importa que eu não detenha as verdades que eu profiro em digitações frenéticas pelos dez dedos sagazes, me incomoda a possibilidade de morrer abraçado a quaisquer mentiras travestidas, que podem seduzir por conta de uma cegueira passional inerente aos idealistas. Em juras, não pretendo sucumbir ao ceticismo gélido de quem perdeu as esperanças mais calcadas nas virtudes humanas.

Não conheço o caminho certo e, por bem, pretendo conhecer os errados, sem medo de errar. Portanto, não me venha com suas pontes de conexões insustentáveis, frágeis e sem boa fundação. Apresente-me caminhos tortos, de pedras, próximos ao abismo, já que não me iludem os feitos de tijolos dourados rumo ao Mágico de Óz.

Não me obrigue a compartilhar das tuas sombras projetadas nas paredes da caverna, onde estás acorrentada, assistindo o crepitar das chamas da fogueira em anestesia profunda. Aliás, não peça compaixão pela tua retumbante falta de coragem; covarde!

Não arrastarei amigos por compaixão, quando estes forem desleais e preferirem comungar do banquete amaldiçoado daqueles que envenenam a sociedade através de discursos e recursos. Permita-me querer seguir adiante se quiseres ir por outro caminho mais atolado e fétido. Estarei rumo à Noosfera, sigam-me os mentalmente livres.

Não peço patrocínio, tampouco organização financeira, aos meus interesses pessoais, espero respeito aos meus direitos como cidadão, reconhecido como indivíduo, mas consciente do coletivo. Ofereça-me isonomia! Não me aflige a igualdade de condições “é disto que se trata!”.

Não me assustam a truculência, as balas de borracha e os cassetetes empunhados por nossa gente que não se percebe povo. Apavora-me a falta de senso crítico apurado que as corporações militares pregam em suas manobras físicas e mentais. “Quem é o inimigo, quem é você?”

Não suportarei, sem antes muito sofrer, assistir atônito suas críticas absurdas sobre os assuntos que já devias compreender pela tua maturidade intelectual. Afinada sob o diapasão de uma ótica mais ponderada e adequada ao bem comum e em detrimento ao indivíduo. Afaste-se dos objetos que lhe contaminam a mente.

Não fuja do ruído das ruas, das dissonâncias, dos desafinados; meu amor. Ali também batem corações e mentes ávidas por efeitos e novos sentidos. Que venham as canções, sem os chavões e os clichês, repletas de estrofes non sense em virtuosos versos. Assim cantaremos uma diversidade de fraseados uníssonos.

Não permita que o bater de asas de uma borboleta, lá no oriente, não se transforme em um belíssimo caos. O caos é bom! O caos é necessário! No caos há mais chance de vida renovada, promova o caos, sem pudor! Alás, bem lembrado, rasgue seu pudor, ele não nos interessa. Que se dane o seu pudor!

Não me perdoe; não vou me ajoelhar pelas coisas que não posso compreender e não vou me arrepender por ter agido incompreensivelmente, atuado compulsivamente e estar entusiasmado por algo que é filosofal. É vontade intrínseca, visceral e operante no âmago das percepções, que não posso controlar e nem assim desejo. Não sou escravo de nada, ninguém, nem de mim; penso… logo reexisto.

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Afinal, não concorde comigo, minha agridoce pretensão anseia que um átimo de pensamento teu possa ser fugidio, transgressor e intercessor. Assim, apenas por esta fração mínima de tempo incalculável, já teria valido muito escrever este texto. Caso contrário, discorde, também produzirá algum efeito e sentido, isto me basta. Amém!

 

Junipampa