Ano 08 nº 190/2020 – As múltiplas ‘performances’ profissionais do(a) professor(a): Heróis e heroínas invisibilizados(as)/ Coluna do Jacinto

Imagem disponível em https://cutt.ly/GgfvucT Acesso 14/10/2020.

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Por César Jacinto

O dia 15 de outubro, data em que se celebra o Dia do(a) Professor(a), chegou. E, com ele, algumas reflexões sobre certas ‘performances profissionais’, exigidas dos(as) professores(as), pelas mais variadas situações no desenvolvimento das suas atividades no contexto social e comunitário em que atuam. Afinal, se existe uma profissão que está permeada por outros ‘fazeres’ certamente é o magistério. Todo(a) professor(a) já cumpriu algum papel correspondente a outra profissão para atender uma necessidade de um(a) aluno(a) ou alguma demanda da escola. A seguir, apresentarei algumas dessas ‘funções’ que, pela necessidade da situação, o(a) professor(a) acaba assumindo, mesmo que temporariamente.

O(a) professor(a) psicólogo(a): É aquele(a) que, mesmo não possuindo formação específica – isto é, aquele(a) que não aprofundou os estudos sobre correntes teóricas da Psicologia, como Psicanálise, Behaviorismo, Gestalt, Cognitivismo, só para citar as principais –, é o(a) professor(a) que, geralmente, lá na Educação Infantil ou nos Anos Iniciais encaminha o(a) aluno(a) para um profissional da Psicologia, no intuito de que essa criança tenha um desenvolvimento equilibrado.

O(a) professor(a) assistente social: Apesar de não passar pelos bancos acadêmicos para estudar como se constitui um profissional de assistência social, um(a) professor(a) nesta ‘função’ detecta com seu olhar sensível as  dificuldades que uma criança está passando e, nesse ínterim, já providencia o encaminhamento para que essa criança tenha um atendimento dos órgãos de assistência social, a fim de diminuir a vulnerabilidade desse(a) aluno(a) e da sua família.

O(a) professor(a) médico(a): Os(as) professores(as) fizeram algum componente curricular do curso de Medicina? Tenho certeza de que 99,99% não, mas quem detecta o problema de visão do(a) aluno(a) que apresenta dificuldades para ler e enxergar o quadro? Ou que apresenta constantes cefaleias? E o problema de audição daquele(a) aluno(a) que grita em demasia e o(a) professor(a) imediatamente percebe que algo está errado? E nos exercícios físicos quem percebe que a articulação dos movimentos não está correta? 

O(a) professor(a) enfermeiro(a): É aquele(a) que, em caso de algum acidente leve – como pequenos cortes – faz o primeiro atendimento ainda na escola, considerando que, geralmente, o estabelecimento escolar dispõe de um kit de primeiros socorros. E, ainda, se o acidente for mais grave, coloca a criança no seu próprio carro, pensando que o que menos importa é se o sangue irá fazer parte da paisagem do veículo, pois o que interessa é a preservação da saúde do(a) aluno(a).

O(a) professor(a) advogado(a): Essa ‘função’ surge principalmente quando se trabalha com adultos e estes chegam, principalmente à noite, cansados do trabalho e se queixando de situações que ocorreram em suas vidas referentes ao mundo do trabalho ou a outros temas e lá vai o(a) professor(a) conceder a primeira orientação, lembrando que existe uma constituição que nos garante uma série de direitos, evidentemente que, num segundo momento, acaba orientando a busca por um profissional da área do Direito – mas a primeira consulta foi com um(a) professor(a) na sala de aula!

Enfim, ser professor(a), além do foco no processo de ensino-aprendizagem, também é preciso reconhecer o(a) aluno(a) no seu contexto social e comunitário, além de compreender suas singularidades. Esses são princípios fundamentais para a construção de uma escola acolhedora e democrática. Na realidade, o(a) professor(a) não deseja ser reconhecido(a) como herói(heroína): nós, professores(as), apenas queremos respeito pelo ser humano que somos e valorização pela nossa profissão, que é fundamental para o bom andamento da sociedade. 

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César Jacinto é professor, graduado em Pedagogia pela UERGS, com especialização em Diversidade Cultural e Mestrado em Ensino pela Unipampa – Campus/Bagé-RS. Escritor, cronista e pesquisador da História e Cultura Afro-brasileira e militante do Movimento Negro.

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