Ano 13 Nº 71/2025 A morte no zoológico, o abandono estatal e a legalização do aborto. 

Ana Paula Fontoura Pinto

Eu gostaria de encerrar o ano de 2025 com algo positivo para dar “o meu pitaco”, porém não será possível. 

Meu caro leitor, se você fosse presidente da república por um dia, o que você faria em relação aos assuntos abordados no título? Talvez você só olharia para o último assunto e o demonizaria na hora. 

Assisti à notícia sobre a morte de um menino de 19 anos, esquizofrênico, atacado por uma leoa ao invadir um zoológico na cidade de João Pessoa, no Estado da Paraíba. O sonho dele era ir para o continente africano para lidar com os grandes reis da selva.

Talvez você pense que o zoológico foi o principal irresponsável por não conseguir detê-lo, mas o buraco é mais embaixo.

Imagine você nascer em uma família cuja avó é esquizofrênica e sua mãe também. E o pior, você é o único filho que herdará esta doença!

A pessoa que sofre desta doença mental gravíssima vive fora da nossa realidade. Para entender melhor sobre a esquizofrenia, recomendo que assista ao filme Uma Mente Brilhante (2001), estrelado por Russell Crowe. O filme conta a história baseada em fatos reais sobre a vida do grande matemático chamado Jonh Forbes Nash Jr, que, aos 21 anos, começa a dar sinais de esquizofrenia e, após uma longa batalha contra esta doença, ganha o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas, em 1994.

Voltemos à realidade, pois a sua vida não é um filme, mas uma história real de abandono. Você e seus irmãos são retirados de sua família, pois ela não tem condições de cuidar de vocês. Porém, você tem a sorte de encontrar pessoas boas dentro do conselho tutelar, que começam a zelar pelo bem-estar de todos, inclusive do seu.

Os anos passam e os seus irmãos são adotados, menos você. Após fugas dos abrigos, brigas com criminosos,  começa a viver na rua, pois você só pode permanecer em um abrigo até atingir a maioridade. Agora, que você atingiu os 18 anos vai ter  que se virar sozinho. Como? Você é quem mais precisa de cuidados, pois as conselheiras já notaram que herdou a doença mental de sua mãe e de sua avó.

A vida na rua não perdoa ninguém, e você, para sobreviver, irá cometer pequenos delitos, tais como atirar pedra nas viaturas policiais para ir preso, pois é o único lugar onde tem comida e onde dormir. Todos que conhecem a sua história lutam para que você tenha um atendimento especializado e uma internação em um hospital psiquiátrico, enquanto isso você, todos os dias, joga pedras nas viaturas para dormir e comer na cadeia.

Contudo, em um fatídico dia, você quer realizar o sonho de conviver com leões, mas para isso acontecer tu precisará invadir a jaula da leoa do zoológico da tua cidade. Como a maioria das pessoas acometidas pela esquizofrenia, uma vez que você não consegue discriminar a realidade da fantasia, não saberá medir as consequências dos seus atos. Por causa disso, entra na jaula onde está uma leoa, que, por instinto, lhe mata para se proteger. E até esse momento, você estava desprotegido.

Então, leitor, já pensou que essa história poderia ser a sua ou até mesmo a minha? Espero que você tenha tido a sorte de ter uma família estruturada e uma boa saúde mental.

Nem todos têm a mesma sorte. Milhares de crianças estão sendo abandonadas pelo mundo por diversas circunstâncias: morte da mãe por feminicídio, abandono dos genitores, guerras e morte da mãe em decorrência aos efeitos colaterais causados pelo aborto ilegal – será que os defensores da vida não deveriam cuidar desses órfãos? Até porque é direito das crianças ter uma vida digna, elas têm o mesmo valor de um bebê que ainda não nasceu.

Gerson de Melo Machado, de 19 anos, morto em João Pessoa por uma leoa, após ter invadido sua jaula, tivesse tido acesso a um tratamento decente, a história dele poderia ter sido diferente.

Se o Estado promover ações legais para que a mulher tenha o seu direito de ir e vir; que tenha acesso ao aborto legalizado e realizado em um hospital assistido pelo Sistema Único de Saúde; tenha proteção contra todos os tipos de violência, em especial a violência doméstica, que geralmente culmina em feminicídio, com certeza não teríamos tantas crianças esperando em abrigos.

Meu caro leitor quero que entendas que quando um adolescente esquizofrênico não tem o seu direito de ser assistido por profissionais especializados em saúde mental ele está sendo negligenciado; quando a mulher não tem os seus direitos respeitados ela está sendo negligenciada, quando uma criança não tem o seu direito a dignidade respeitado ela também está sendo negligenciada.

Podemos dizer então que estão sofrendo violentados, principalmente pelo Estado que se recusa a atendê-los?

Feliz ano novo e espero que estas situações possam diminuir.

G1- Paraíba. Abandono, internações e esquizofrenia: como era a vida do jovem morto por leoa em João Pessoa, Disponível no link https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2025/12/02/abandono-internacoes-esquizofrenia-como-era-vida-jovem-morto-leoa-joao-pessoa.ghtml. Acesso em 10 dez 2025. 

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