Ano 13 Nº 58/2025 Abraços que Cruzam Continentes: a Distância sendo vencida pelo afeto

Paula Diele Pereira Fonseca

O aguardado momento chegou: Samuel demonstrou grande ansiedade pela visita de sua irmã. Cabe esclarecer que Samuel possui uma irmã do primeiro casamento de meu esposo, Iris. A relação entre Samuel e Iris é bastante próxima, e, mesmo com a distância, a tecnologia atual possibilita chamadas de vídeo nos finais de semana, durante as quais Iris demonstra notável paciência, envolvendo-se por horas em brincadeiras com ele, como escolher carrinhos para corrida ou assumir o papel de co-piloto em suas brincadeiras imaginativas.

A chegada de Iris, acompanhada da avó Ivete, minha sogra, por quem Samuel apresenta grande afeto, constituiu um momento de grande relevância para nossa família. Durante esse período, exploramos diversos locais na China, incluindo amplos shoppings e lojas de cosméticos, oferecendo a Iris e Ivete a oportunidade de observar produtos importados com valores significativamente inferiores aos praticados no Brasil. Nossos dias foram organizados de forma a conciliar passeios com o horário escolar de Samuel e momentos de recreação ao final do período letivo.

Além disso, realizamos uma viagem à Indonésia, cujas experiências podem ser detalhadas posteriormente, dada a riqueza cultural e as belezas naturais desse país.

Após a visita de Íris e Ivete, recebi minha irmã Renata e sua amiga Gerusa. Essa visita teve um efeito reconfortante, proporcionando momentos marcantes em que experimentamos diversas comidas de rua e pratos típicos da culinária chinesa.

Gerusa, amiga de minha irmã, é proprietária de uma empresa de importação e exportação no Brasil, possuindo fluência em inglês. Além disso, realiza aulas de chinês online com uma amiga que conhecemos na China, a qual também ministra aulas de chinês para meu marido. Durante nossa convivência, Penny, nossa amiga chinesa, tornou-se próxima e demonstrou apreço pelo pão de queijo.

A visita proporcionou a oportunidade de apresentar Penny e Gerusa pessoalmente, já que ambas se conheciam apenas por meio das aulas online. Para isso, fomos a um restaurante chinês, onde minha irmã experimentou diversos pratos e especiarias locais, incluindo o ovo centenário.

O ovo centenário chinês, também denominado ovo preservado ou ovo milenar, é um alimento tradicional da culinária chinesa preparado a partir de ovos de pato, galinha ou codorna submetidos a um processo de preservação química. Apesar da nomenclatura, o ovo não é realmente preservado por cem anos; o processo geralmente dura algumas semanas a meses. O método consiste na imersão do ovo em uma mistura de cal, argila, sal, cinzas e, por vezes, chá, provocando transformações químicas na clara e na gema:

  • Clara: adquire textura gelatinosa e coloração escura, variando entre marrom e preto translúcido.
  • Gema: desenvolve textura cremosa e coloração verde-acinzentada ou marrom.
  • Sabor:  eu, Renata e Gerusa achamos sem sabor, porém é descrito como tendo um sabor amargo e levemente terroso. 

O ovo centenário pode ser consumido isoladamente, fatiado em saladas, incorporado a mingaus ou como acompanhamento de pratos típicos chineses.

Todas as comidas foram bem recebidas. Ainda nesse dia, Gerusa conseguiu agendar uma reunião de trabalho, a qual minha irmã e eu a acompanhamos. A situação revelou-se bastante curiosa, pois as negociações com os chineses envolvem estratégias para criar um ambiente acolhedor, distinto das práticas habituais observadas no Brasil.

Durante esse período, visitamos diversos locais e participei de um desafio pessoal ao comparecer ao congresso anual de medicina veterinária WASAVA, realizado em 2024 na China. Considero-me com boa compreensão de inglês, embora ainda pouco fluente na fala, o que tornou a experiência desafiadora, porém enriquecedora.

Para deslocar-me até o congresso, realizado em uma cidade próxima, utilizei o trem de alta velocidade (high-speed train), que atinge velocidades de até 350 km/h. Esse recurso despertou grande surpresa em minha irmã, devido à rapidez e facilidade de locomoção entre cidades.

Além disso, aproveitamos o trem de alta velocidade para visitar Pequim, percorrendo 1.051 km em aproximadamente quatro horas, trajeto que, de carro, levaria cerca de 11 horas sem paradas. Esse contraste evidencia a elevada eficiência e planejamento do transporte ferroviário na China, demonstrando o alto nível de preparo do país em termos de mobilidade urbana e intermunicipal.

Com a minha irmã e sua amiga também viajamos à Tailândia, viagem que poderia ser abordada em outra ocasião, dada a riqueza natural e cultural do país. 

Posteriormente, meu pai e minha madrasta chegaram à China, desta vez acompanhados de minha enteada, proporcionando momentos únicos e memoráveis. Durante a estadia, minha madrasta demonstrou certo estranhamento em relação aos cheiros e sabores locais, reação semelhante à que tive ao chegar na China, enquanto meu pai apresentou maior adaptação.

Mais uma vez, tive a oportunidade de apresentar meu cotidiano e experiências na China a pessoas próximas. Ao levá-lo a um mercado típico de Shangai, meu pai demonstrou grande satisfação, especialmente pela facilidade de comunicação em espanhol com alguns comerciantes, o que facilitou as compras e negociações. Durante sua permanência, não saímos do país, mas proporcionamos visitas a pontos turísticos significativos, como a Grande Muralha da China, e apresentamos as diversas diferenças culturais e práticas que experimentamos, incluindo o serviço de delivery altamente eficiente e ágil, característico do país.

No próximo relato, vamos viajar com minhas experiências profissionais iniciais como médica veterinária na China, atuando no zoológico da cidade. Compartilharei os desafios, aprendizados e descobertas desse primeiro emprego, revelando um universo fascinante de cuidado animal e gestão ambiental. Essas experiências prometem aprofundar ainda mais a compreensão das diferenças culturais e profissionais que vivenciei, convidando o leitor a acompanhar minhas aventuras e reflexões na prática veterinária internacional.

Paula Diele Pereira Fonseca, médica veterinária, mãe e educadora. Formada pela Universidade da Região da Campanha (URCAMP/Bagé). Mestre em Sanidade animal pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), possuo 13 anos de experiência com clinica e cirurgia de pequenos animais. E-mail pauladpflages@gmail.com

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