Ano 13 Nº 47/2025 De Mi Flor

Por: Maria Eduarda Silveira da Silva

Poema de 1º Lugar do IV Concurso do JUNIPAMPA

Hoje, nesse tempo meio haragano
Pensei no alambrador que me tornei,
As fronteiras que criei, e
A Querência que abandonei.

Mais do que fronteriar terras,
Me esqueci de ser quem sou.
Não tentei de mi flor.
Condenado a acachilamento de alma.

Mas confesso;
Com saudades estou.
Quero tapar-me de quero-queros
E voltar para antes tempos …

Quando ainda era piá,
Nem sonhava em ser alambrador,
Tinha até medo de gente assim;
Gente que limita gente.

Pra mim, era tudo linha imaginária,
Como os meridianos e paralelos.
De certo, foi um bagaceiro desses,
Louco por dinheiro, que inventou.

Confundir o povo, vender amor.
Agringuei-me até demais ao tentar ser quem não sou, e
Me aboletei bem no meio do alambrado
Só pra ver se acho a Querência que abandonei.

O que deixei pra trás
Era sinônimo de liberdade;
Sem fronteiras, sem alambrado.
Era enfronhado de viver.

Montava no meu petiço,
Era chamado de sonhador, como eu.
A trote rápido, atravessava o pago,
Sonhando em não crescer.

Aprontava mais que o saci,
Roubava mel dos camoatim
Sem poncho, pra sentir adrenalina.
Gostava mesmo quando podia lagartear solito, asi no mas.

Podia ser eu, podia ser poeta
Ou só vivente mesmo.
Mas o que eu mais queria
Era ser destruidor de alambrado.

Criar pontes, unir gente.
Ouvir história e estórias!
Gritar; “envido!”, e declamar um verso.
Tudo isso numa roda de mate…

Pra cevar, além da erva, a esperança
Para reerguer gente que se afogou,
Nessa enchente de alambrador
Feliz é quem ainda sabe de mi flor.

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