Ano 13 Nº 30/2025 Excedente de saber – sobre formar-se professor

Por: Nathan Bastos de Souza

Aos BIDs do núcleo 2 e às supervisoras, pelo trabalho coletivo que estamos construindo.

Fonte: Arquivo pessoal

Voltar a escrever ao JUNIPAMPA, tantos anos depois, é muito bonito. Vi o jornal se formar, crescer, se consolidar. Acho que faz uns dez anos que saiu uma última contribuição minha aqui. Em alguma semana acadêmica de Letras, lá por 2014 ou 2015, entrevistei com outras colegas de graduação o prof. Kanavilil Rajagopalan, que veio a Bagé a convite de um diretório acadêmico de então. O que saiu no JUNIPAMPA foi uma entrevista gravada em áudio apenas, lembro bem daquela noite gelada no Clube dos Zíngaros, quando entrevistamos esse professor tão importante em nossa área.

Depois disso, só acompanhei como leitor o jornal. Desde aquela época muitas coisas mudaram, incluindo o JUNIPAMPA. Quando a profa. Flávia Azambuja, a quem agradeço, convidou o grupo do PIBID a escrever uma coluna com relatos de experiência por aqui desde já minha resposta era positiva. Submeti aos participantes do núcleo que coordeno em reunião e todos foram favoráveis.

Feita essa introdução, o primeiro texto do meu núcleo é este, que esbocei algumas vezes. Resolvi, depois de muitos rascunhos que não deram em nada, tratar de algo que é uma orientação geral que tenho colocado em questão para os BIDs, e por isso dedico a elas e eles este texto: formar-se professor não é algo rápido. Pelo contrário, é uma longa caminhada de encontros. Pelo caminho vamos passando por uma série de sujeitos, aqueles que lemos, aqueles com quem temos aulas, aqueles que são nossos alunos na iniciação à docência, nos estágios… Todos esses encontros vão dando o tom de uma construção do “ser professor”, cada dia um pouquinho. Vagarosamente…

Em uma sociedade das urgências, dedicar tempo para aprender com esses encontros e apreender o que significam parece artigo de luxo. Apesar disso, acho que construí com o grupo uma ideia de que é preciso antes de ingressar em sala de aula com uma pauta de regência construir um excedente de saber. Essa expressão bem bakhtiniana foi utilizada aqui e em algumas reuniões para justificar que esperar faria bem, daria melhores condições de resolver temáticas da ordem do dia da sala de aula enquanto uma base teórica estava em construção.

Nesse meio tempo o grupo esteve, nas três escolas, em plena atividade. Na ordem dos encontros, que mencionei acima, os BIDs já travaram diálogos com as experiências potentes das supervisoras, com quem estão no dia a dia da escola, acompanhando aulas do ensino médio e/ou técnico. Já fizeram uma bonita caminhada no sentido de estabelecer encontros com estudiosos da linguagem, por meio de leituras e discussões, tanto na escola quanto na Unipampa. Já fizeram também uma reflexão sobre o que observavam em sala de aula, problematizando o próprio lugar como BIDs, para logo assumirem regência.

Esses encontros, como estou propondo, são decisivos para a formação inicial dos BIDs. Daí a ideia de construir um excedente de saber. Da posição que ocupo entendo que para formar-se professor de Língua e Literatura de Língua Portuguesa deve haver um esforço por aperfeiçoar-se e conhecer com profundidade, por isso trabalhamos consistentemente com atividades teóricas que garantirão, depois, nessa formação profissional, as ferramentas necessárias para tratar em sala de aula do multifacetado que
é a linguagem.

Na ordem dos encontros que estão sendo travados, depois de um bom tempo em observação e reflexão das aulas das professoras supervisoras, agora vamos a um novo desafio, qual seja, assumir classe e ministrar oficinas de leitura e escrita. Para isso, estamos com um conjunto de oficinas já em fase avançada para começar a aplicação com estudantes do ensino médio e/ou técnico atendidos nas escolas Waldemar
Amoretty, Silveira Martins e IFSUL. É uma fase nova dos encontros para os BIDs, agora, “assumir-se professor” será a tônica.

Com essa bagagem dos encontros até aqui construídos, com tempo de qualidade dedicado à construção de um excedente de saber, os BIDs começarão os trabalhos de regência. Sinto-os ansiosos por este momento, com uma ansiedade boa, que faz pensa nos encontros que virão.

Quero dizer ainda que o saldo de acompanhar este grupo até aqui trabalhando em leituras, em um momento, depois na elaboração didática, em outro, é tão instigante. Esta é uma das “bonitezas” da nossa profissão, como diria Paulo Freire, ver os outros crescendo e sentir-se fazendo parte do crescimento. Viva o PIBID!

Nathan Bastos de Souza
Professor de Linguística do Curso de Letras – Português, da Unipampa, Campus Bagé.

Deixe seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Junipampa