Ano 12 Nº 097/2024 Os multiletramentos, de acordo com o New London Group
Por: Willians Barbosa
Fonte: MVC Editora
A sociedade pós-moderna é um ambiente abundantemente plural, com várias intersecções de falas, discursos e identidades. Com isso, a pedagogia do letramento deixou de contemplar todas as demandas do processo de ensino e aprendizagem atual. Assim, em 1996, um grupo de pesquisadores de diferentes países, o New London Group, cunhou a expressão e desenvolveu a teoria dos Multiletramentos, que considera toda essa diversidade.
A teoria dos multiletramentos se baseia, a princípio, em três grandes pilares: a multiplicidade de discursos, as culturas multifacetadas e as tecnologias de informação e multimídia. Enquanto de um lado temos uma multiplicação de canais de comunicação e de mídia, que cada vez abrem mais espaço para diferentes vozes, do outro lado temos uma crescente diversidade cultural e linguística. Dessa conjunção, tem-se terreno para que nasça uma multiplicidade textual, ancorada nas circunstâncias sociais, tecnológicas e no próprio desenvolvimento das sociedades.
Diferente da pedagogia do letramento mais tradicional, os multiletramentos se concentram em modos de representação muito mais amplos do que apenas a língua e diferem de acordo com a cultura e o contexto. Podemos citar aqui o modo textual imbricado ao visual, ao sonoro e a outras modalidades que o avanço tecnológico venha a permitir. Surgidos dessas interações simbióticas, a mídia de massa, a multimídia, a hipermídia eletrônica e novos meios de comunicação estão, como destaca o NLG, remodelando a maneira como usamos a linguagem.
Tão importante quanto esse caráter de expansão digital, é o aumento da diversidade local e de conexão global. Estamos, como desenrola a teoria dos multiletramentos, em um ambiente em que diferenças subculturais estão se tornando cada vez mais significativas, pondo-se fim àquela ideia de comunidade homogênea de estados. Assim, estratificações baseadas em gênero, raça, sexualidade, entre outros, se tornam mais preponderantes na arena social. Essa ênfase na identidade é assumida pelo NLG, que afirma que, além de todas essas subdivisões, cada uma dessas identidades são formadas por múltiplas camadas e atravessadas por múltiplos discursos. Há, além disso, ‘’múltiplos discursos de reconhecimento a serem negociados’’, em uma permanente reacomodação dos corpos e dos locais que eles devem ocupar. Claro que, considerando todo esse cenário, a teoria dos multiletramentos se tornou relevante no ambiente de ensino, ao tocar em pontos que a pedagogia do letramento enfrentava desafios frente a essa liquidez.
Um termo que a teoria dos multiletramentos se apropriou foi o de ‘’design’’, aqui visto como uma ‘’construção de significados’’. Ela considera os professores e gestores de ensino como ‘’designers’’ dos processos e dos ambientes de ensino. Cada design, segundo eles, inclui ‘’ordens do discurso’’ – um conjunto de discursos produzidos socialmente que se entrelaçam e interagem entre si. Podemos considerar uma mistura de diferentes sistemas semióticos, cada qual influenciando um ao outro e dando conta da diversidade dos modos de comunicação. Discursos, dialetos, estilos, gêneros e vozes tomam, então, forma, evidenciando o caráter plural das sociedades e a natureza interativa da construção de significados.
Dois pontos a considerar sobre o design é que, primeiro, ele reproduzirá ou transformará, mais ou menos radicalmente, determinados conhecimentos, relações sociais e identidades, dependendo das condições sociais em que ele ocorra; segundo, que criamos e reproduzimos designs em nosso próprio cotidiano, ao ouvir e falar, ler e escrever – que são atividades produtivas e, por isso, formas de designs.
Em síntese, a teoria dos multiletramentos se tornou base para se pensar o processo de ensino e aprendizagem em um contexto de diversidade, tanto de canais e formas de comunicação quanto de identidades. Sua forma de considerar diversos fatores sociais e linguísticos passou a ser importante não só para professores, mas para pesquisadores de diversas áreas que querem pensar a dinâmica de construção de significados e a reprodução de discursos socialmente produzidos.
Referências bibliográficas
GRUPO NOVA LONDRES. Uma Pedagogia dos Multiletramentos: Projetando Futuro Sociais. Revista Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 13, n. 2, p. 101–145, 2021. DOI: 10.46230/2674-8266-13-5578. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/5578. Acesso em: 16 nov. 2024.
Willians Barbosa é jornalista formado pelo Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp), especialista em Artes pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), com MBA em Jornalismo Digital. Atualmente, cursa Letras pela Universidade Federal do Pampa