Ano 12 Nº 018/2024 – Meus cumprimentos ao povo de axé, filhos de pemba.

Por Ana Paula Fontoura Pinto

“Troque seu olhar preconceituoso por uma gira e aprenda a valorizar diversidade e respeito.”

 Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/feche-as-maos-tocando-bateria_16130604.htm#query=umbanda&position=1&from_view=search&track=sph&uuid=dd4e3e86-db41-4048-9487-4d36eeae9ece“>Freepik</a> 

É com imensa tristeza que venho expressar-me sobre algo que nos persegue há muito tempo: o impedimento de exercermos nossa fé em um país considerado laico.

Durante uma pesquisa rápida na internet, vi uma quantidade assustadora de denúncias de intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana e de umbanda.

E isso tudo tem a ver com o racismo!

Como soubemos, as religiões vieram com os negros escravizados nos navios negreiros que,  além de perderem sua liberdade, foram proibidos de falar sua própria língua e de cultuar suas  divindades. 

Após a abolição da escravatura, os terreiros eram abertos somente com autorização policial e mesmo assim os pais de santo eram constantemente perseguidos.

A escravidão dos povos africanos começou por volta de 1532, trinta anos após a entrada dos navios lusitanos, sendo que  os povos indígenas já estavam sofrendo o mesmo processo que os africanos. 

O que intriga é o envio da carta de um homem de bem[1] que , ao ver os nativos desta terra,  escreveu ao Rei Dom João VI, de Portugal,  a célebre frase: – “ é preciso salvar esta gente”.

Mas, quem disse que os nativos queriam ser salvos?

Como podem julgar a religião de um outro a partir da sua doutrina religiosa?

Infelizmente, o povo Tupinambá foi extinto e os outros povos tiveram o mesmo fim ou foram escravizados e catequizados à força justamente pelo fato de julgarem às crenças alheias usando como parâmetro a Bíblia. 

Foi assim que os portugueses transformaram os negros em mercadoria, pois segundo suas crenças o negro era considerado inferior por não acreditar em um Deus europeu e, segundo a Biblia, os negros eram descendentes de Cam, o filho amaldiçoado por Noé por tê-lo visto nu e bêbado. 

Foi assim que fomos forçados a acreditar em uma crença que não é a nossa, por arrogância de quem achava que só o seu Deus era o único, sendo que nós sabemos que isso não existe. Mas resistimos e isso está explicado no sincretismo religioso em algumas religiões de matriz africana e a’ umbanda.

As religiões politeístas já existiam antes de Cristo nascer. Cristo nunca questionou as crenças vindas antes Dele.  

 Então, como, de uma hora para outra, todas as religiões fora o cristianismo se transformaram em pagãs? 

Como padronizaram a religião que promoveu a morte de centenas de irmãos através de guerras religiosas?

No fim de janeiro, um Pai de Santo foi preso, na cidade de Franca, localizada no interior do estado de São Paulo,  porque estava cultuando os orixás  DENTRO DE SUA CASA.  Assim que receberam a denúncia, a polícia entrou no local, parou o culto e levou o pai de santo para a delegacia. 

NUNCA VI ISSO EM IGREJAS EVANGÉLICAS! 

Muitas pessoas chutam oferendas deixadas nas encruzilhadas sem saberem o que isso significa. 

Julgam os santos da umbanda e do candomblé como figuras diabólicas. 

Exú não é diabo! Ele é o orixá responsável pela abertura dos caminhos e mensageiro dos orixás! Sem ele não se faz nada!

A umbanda é uma religião que prega o amor e a caridade!

Os adeptos aos cultos do Candomblé, do Batuque e da Nação somente querem cultuar os seus orixás livremente, da mesma forma que os irmãos de fé cultuam Jesus. 

Se um dia Jesus descesse à Terra,  Ele ficaria com os que precisassem dele: os leprosos, as viúvas, as crianças abandonadas, a comunidade LGBTQIA +, os mendigos, os órfãos, os candomblecistas, os umbandistas. Todos aqueles que vivem à margem do padrão imposto. 

Não é possível julgar uma religião pelo dogma de outra. Isso é arrogância!

Estamos em uma época em que os fariseus ainda estão presentes!

                                                                    Muita fé a todos!

                                                                    Axé!


[1] Pero Vaz de Caminha foi um Fidalgo português, escrivão na armada de Pedro Álvares Cabral. 

Referências 

Carta de Pêro Vaz de Caminha. 1 de Maio de 1500.  Portugal, Torre do Tombo, Gavetas, Gav. 15, mç. 8, n.º 2.  Disponível no link https://antt.dglab.gov.pt/wp-content/uploads/sites/17/2010/11/Carta-de-Pero-Vaz-de-Caminha-transcricao.pdf .Acesso em 07 fev. 2024.
DCM- Diário do Centro do mundo. Vídeo: PM invade terreiro de Candomblé e prende Pai de Santo em Franca. Disponível no link

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/video-pm-invade-terreiro-de-candomble-e-prende-pai-de-santo-em-franca/. Acesso em 07 fev 2024.

Ana Paula Fontoura Pinto

Estudante do quarto semestre do curso de Mestrado Acadêmico em Ensino pela UNIPAMPA – Campus Bagé. Umbandista.

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