Ano 08 nº 128/2020 – A temática LGBTQ+ em livros juvenis
(Imagem é de Jason Leung, está disponível em domínio público neste link: https://unsplash.com/photos/D4YrzSwyIEc.)
Levando em conta a maior aceitação da comunidade LGBTQ+ pela sociedade, a criminalização da LGBTfobia em alguns países e a retirada da homossexualidade e da transexualidade da lista de doenças mentais pela OMS, é presumível que a produção de obras com temática LGBTQ+ aumente. Cá entre nós, arrisco dizer que esse aumento se dá não só pela naturalização deste assunto, mas também pela crescente demanda popular e oportunismo do mercado editorial. Olhando especificamente para o público juvenil, o gênero young adult levantou a bandeira do arco-íris com personagens e narrativas de gênero e sexualidade diversos.
Quando buscamos por obras literárias de cem, duzentos ou trezentos anos atrás que abordem essa temática, fica nítido que os resultados são poucos – praticamente nulos se restringirmos a pesquisa para o público juvenil. Talvez pela pouca quantidade de livros escritos acerca desse tema numa época com tantos preconceitos ou pelo apagamento e não permanência dessas obras da literatura. Felizmente, com o progresso dos debates de gênero, hoje é possível que encontremos exemplares que naturalizam as vivências LGBTQ+ tanto para adolescentes quanto para crianças, afinal, não são poucos os exemplares que intentam desconstruir o conceito heteronormativo de família. Vale lembrar da distinção entre livros para crianças e jovens e literatura infanto-juvenil, uma vez que obras com caráter pedagógico, que, por exemplo, “ensinam” que uma família pode ser formada por dois homens, não são literatura, e sim um livro destinado às crianças com a intenção de explicar um tema.
Apesar de tamanho progresso, essa conquista tem sido ameaçada por discursos conservadores, um exemplo claro desse retrocesso é a censura de uma obra que estava à venda na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2019. O prefeito, Marcelo Crivella, considerou que a HQ Vingadores – A Cruzada das Crianças era inadequada para o público infanto-juvenil por conter uma cena em que dois rapazes se beijam. A situação gerou uma comoção nas redes sociais, recebendo apoio de diversos intelectuais, artistas, youtubers e também da Academia Brasileira de Letras, que emitiu uma nota condenando a censura de obras literárias.
Esse tipo de discurso – conservador, anti-LGBTQ+ – tem a mesma raiz que as recorrentes agressões verbais e físicas sofridas pela comunidade em questão, o preconceito. Assim como para os agressores, a existência dessas pessoas é inadequada e a violência é uma solução, para o prefeito, a existência dessa comunidade também é uma questão, afinal qual o objetivo da censura se não impedir que jovens vejam uma relação homoafetiva naturalmente?
Acredito que, mais do que nunca, é necessário estabelecer o lugar da diversidade dentro da literatura, por isso trago neste texto algumas indicações ao público juvenil, lembrando que os jovens de hoje podem e devem ler textos que lhes interessem, lhes deem prazer, livres de preconceitos e credos que não cabem a este tempo.
As obras que trago a seguir são leituras que fiz na minha adolescência e talvez já sejam conhecidas de alguns, elas são: Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo, de Benjamin Alire-Saenz, Simon vs. A Agenda Homo Sapiens, de Becky Albertalli, Garoto encontra garoto, de David Levithan, e Over The Rainbow – Um Livro de Contos de Fadxs, de Milly Lacombe, Renato Plotegher Jr, Maicon Santini, Lorelay Fox e Eduardo Bressanim. Dou um destaque para o livro de Alire-Saenz, que se tornou um de meus preferidos e já foi lido e relido diversas vezes, porém, a seu modo, cada uma delas é especial e merece uma chance. Espero que vocês, leitores experientes ou iniciantes, as apreciem tanto quanto eu.
João Pedro Sgarbi Rocha é aluno do 7º semestre do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa da UNIPAMPA Campus Bagé. É professor de língua portuguesa, literatura e redação no Curso Preparatório Simplifica, voluntário no projeto de extensão NULI – Núcleo de Formação do Leitor Literário e no projeto de pesquisa Variação Linguística: descrição, ensino e formação de professores.