Ano 10 nº 064/2022 – PROPÓSITO

Por Elaine Madruga Paiva

“Propósito é algo que está profundamente ligado à sua identidade, toda vez que você se impõe um propósito, que não tem nada a ver, com a sua essência isso se chama ilusão,   em algum momento da vida ela vai se tornar  desilusão.” Haroldo Dutra

Todos nós temos um propósito de vida, e ele é conjunto, podendo ser no nosso grupo familiar, no nosso grupo de amigos, colegas etc., mas, antes mesmo de desenvolvermos este propósito, ou tomarmos alguma iniciativa, junto a todos devemos primeiramente, cuidar de nós mesmos.

Quando você tem o desejo de ajudar, e tem como ideal ser uma pessoa bondosa, equilibrada, que auxilia os outros e ser  caridosa, você tem o dever de cuidar de si mesma. Isso porque, se não cuidamos de nós mesmos, não estaremos em condições de ajudar o outro. Quando pensamos na palavra  “dever”, ela nos remete quase sempre ao dever para com o outro, sociedade etc., mas aqui ela se aplica a nós mesmos. Se temos o dever para com o outro, temos antes o dever para com nós mesmos.

Mas começamos a pensar como é esse cuidado conosco. Por exemplo, quando somos uma pessoa vaidosa, estamos cuidando de nós? Sim, mas exageradamente, acabamos passando da medida. A mesma coisa acontece quando somos orgulhosos e egoístas. 

Quando dizemos que você tem que cuidar de si, isso não tem nada a ver com orgulho, egoísmo, vaidade, prepotência, arrogância. Porque tudo isso representa excesso, quando se passa da medida, quando exageramos, perdemos  a mão. Para ilustrarmos esse feito, imaginemos o momento  quando cozinhamos um arroz, vamos colocando o arroz, a água, até que chegue a hora de colocar o sal, aí você erra a mão, você coloca sal de mais, vai acontecer que ninguém vai comer.

Nesse momento, fizemos a pergunta: a culpa é do sal ? Não!  A culpa é do excesso de sal. Então, quando alguém erra na mão, coloca sal demais, a culpa não é do sal, a culpa é da medida,  a causa, é a medida que você usou.

Então nós não podemos confundir excesso de cuidado, que é aquela pessoa que só pensa nela. egocêntrica, narcisista, com a pessoa que cuida de si de maneira comedida. É completamente diferente, por isso nós temos que desfazer essa crença limitante, temos que tomar cuidado, porque  muitas vezes pode  gerar sentimento de culpa, portanto, temos que nos desfazer disso.

O cuidado consigo mesmo deve ser um cuidado equilibrado, é um tempero que tem que ser colocado com equilíbrio, com bom senso, na justa medida. O que nos ajuda a lidar com esse sentimento de culpa, é a compreensão de que precisamos cuidar de nós mesmos. Então, a partir daí, esse sentimento de culpa começa a se esvaziar, ser libertado dessa crença limitante, que é a culpa. 

Agora vamos entender o que é cuidar de nós mesmos, pois o cuidado de si mesmo tem vários níveis e vamos iniciar aqui pelo mais importante, ou seja, o cuidado que devemos ter com a nossa natureza espiritual, pois precisamos cuidar de nossa espiritualidade, da nossa transcendência, da nossa conexão com a natureza, com a vida. Porque se não nos sentimos  conectados com as flores, com o mar, com os animais, com os seres humanos, com a natureza, com a vida, espiritualmente nós começamos a definhar, e, consequentemente, a perder o encanto. Como nos diz o Papa Francisco “Nós não podemos perder a capacidade de nos encantar, de nos comover com a vida”. Quando olhamos, por exemplo, para o céu e vemos que tem uma lua crescente, bonita, nesse momento, nos  conectamos com a natureza, pois fazemos parte dela e da vida, por esse motivo precisamos nos conectar com a transcendência.

No inverno, a natureza  fica toda ou quase toda morta,  acabam as flores, as folhas, os frutos, como no norte do planeta o inverno é tão rigoroso, tudo é gelo puro, parece que tudo morreu, mas  aí vem a primavera que faz renascer tudo que antes parecia sem vida. Todo esse movimento é transcendência. Então temos que entender que isso acontece conosco também. Conectarmos com o sentido da vida é cuidar de nós mesmos, precisamos nos associar com valores morais, éticos, valores de bondade, misericórdia, perdão, amor, simplicidade, sabedoria. Tudo isso é importantíssimo, as pessoas estão se desligando da sabedoria e estão trocando conhecimento por opinião, ou seja, elas preferem ter opinião do que ter conhecimento. Estão se desconectando da sabedoria e, nós estamos aplaudindo a ignorância, a falta de educação e a estupidez. Tudo isso é cuidar do espiritual, é cuidar da sua essência, pensar na vida e na morte, pensar na fragilidade da vida física, de tudo que se toca, tudo que é material, isso é importante, isso é transcendência, isso é cuidar de nós mesmos.

Agora vamos ver as questões da nossa mente, esse dínamo poderoso. A nossa  mente precisa ser cuidada, a escolha de nossos pensamentos se torna fator fundamental. 

Provocar bons pensamentos, sim, eles não caem  do céu, precisam ser provocados. E como podemos fazer, então para estimulá-los? Podemos, por exemplo, escolher  ouvir uma boa música, com uma letra belíssima, ler um livro maravilhoso, escolher ouvir na internet algo que nos esclareça, anime, que nos coloque para cima, ou procurar  conversar com alguém que tenha sabedoria, que tenha espiritualidade e amor. Quando fazemos isso, provocamos bons pensamentos, porque sim, precisam ser gerados e construídos, pois semeá-los deve fazer parte do nosso propósito. Por outro lado, há determinados programas de televisão, filmes, músicas, conversas e certos conteúdos na internet que vão semear em nós maus pensamentos, e estes geram  um desequilíbrio. Por isso temos que cuidar da nossa mente, reservar momentos para cultivar a nossa serenidade, nisso está incluído meditação, oração, recolhimento, ficarmos  mais quietos, procurarmos asserenar a nossa mente. Ter um  momento de quietude para aproveitar as relações, como o  marido, a esposa, os filhos, os colegas, os amigos, os pais, os irmãos, os entes queridos.

Depois vem o emocional, é preciso cuidar das nossas emoções. Se ficarmos somente em  clima de estresse, correria e de raiva, vai acabar acontecendo que as nossas emoções ficarão destrambelhadas, vamos entrar num ciclo vicioso das emoções.

Tudo bem que, às vezes, nós ficamos estressados, com raiva, bravos, mas temos que voltar a nos aprumar, temos que fazer um movimento contrário, que é o da alegria, confiança, serenidade, do prazer e  do afeto. Temos que contrabalançar, não podemos ficar  somente  nos  entregando a emoções que nos deixam alerta, em sistema de alarme.

Muitos de nós já acordamos pensando nos problemas e aí fica difícil dar conta de tudo. Ninguém consegue! O que é melhor fazermos logo que  acordamos? A melhor coisa que podemos fazer é estimular emoções positivas, situações de serenidade antes de sair da cama vamos procurar meditar pelo menos 20 segundos, não vamos logo ligar o celular, vendo o whatsapp, instagram, se conectando com  as redes sociais. Devemos dar uma pausa e preparar o nosso dia, pois vamos ter uma jornada pela frente. Quando  vamos dormir também vamos preparar o nosso sono, pois temos que fazer uma preparação do nosso emocional, isso é cuidar de si.

Ter cuidado físico, cuidar de seu corpo. Aqui fica a pergunta: o que estamos comendo, com o que estamos nos alimentando? A verificação de uma alimentação saudável nos leva a uma vida plena, já dizia o Professor Emílio Peres, fundador do Curso de Nutrição da Universidade do Porto, “nós somos o que comemos”.

Não podemos deixar para trás o exercício, que pode ser uma simples caminhada, natação, musculação, pilates, ioga, você é que escolhe como  cuidar de seu corpo.

É preciso pensar nas finanças, organizar sua vida financeira, sua vida profissional, escolar, seja ela em que condição está neste momento. Todos estamos num mundo em que a parte  material é muito valorizada, portanto, precisamos adquirir habilidades para lidar com esse espaço físico, não podemos ficar na fantasia. Se aqui estamos, temos que saber lidar bem  com as  coisas materiais, fazendo uso de muita sabedoria, buscando ter uma boa organização, sendo previdente, pensando e planejando.

Então podemos perceber que, em todo ciclo de vida, nós temos  propósitos, que podemos realizar, descobrir que nunca é tarde para começar um propósito de vida, pois temos muitos caminhos a seguir  para fazermos nossas escolhas. Nossa vida se assemelha a vários jardins, e nós somos o semeador, nós temos diversos papéis a desempenhar nesses jardins.

Devemos trabalhar em nós as boas virtudes, domar as más tendências, atitudes estas que nos conduzem ao tão almejado equilíbrio, nos tornando assim seres humanos melhores  a cada dia , onde o resultado desses esforços é  uma vida plena.

A nossa vida é cheia de altos e baixos, imprevistos, mudanças, e é esses reveses que a vida nos apresenta que exigem que a gente desenvolva habilidades para traçar novos propósitos, que demandem a nos reinventarmos, nos construirmos, e assim, conseguirmos  estabelecer esses novos propósitos. 

Então, cuidar de si é investir no nosso crescimento, na nossa evolução, mesmo sabendo que investir demanda sacrifício, porque, toda vez que investimos no nosso crescimento, o sacrifício, o trabalho, a renúncia e o esforço são as pedras, as montanhas que precisamos transpor.

Se esperarmos que todas as circunstâncias, que todos os astros estejam alinhados para que venhamos a tomar uma decisão, isso nunca acontecerá, pois nem sempre todas as  situações serão favoráveis. 

Temos que nos colocar em movimento, ficarmos parados não é a melhor atitude para que as coisas cheguem no lugar tão almejado e sonhado muitas vezes por nós, “é no  andar da carroça que  as abóboras se ajeitam”.

Então vamos tomar  a decisão de cuidar de nós, investir no nosso desenvolvimento, aprimoramento e aperfeiçoamento. Quando aprendemos a cuidar de nós, podemos então cuidar do outro e desenvolver os melhores sentimentos de bondade, caridade e generosidade com as pessoas que  amamos.

Vamos firmar nosso propósito de vida e buscarmos sermos felizes, fazendo os outros felizes, rumo a uma nova era, a um planeta onde o amor e o bem prevalecerá. 

Elaine Madruga Paiva, Bacharel em Ciências Contábeis – Centro Universitário da Região da Campanha (URCAMP/Bagé-RS) e atualmente  é graduanda do curso de Licenciatura em Letras – Português e Literaturas da Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA/Campus Bagé-RS), transpassando pelos semestres 5º, 6º e 7º. Em 2022, ingressou como bolsista no Programa de Educação Tutorial – PET Letras/Bagé. Neste projeto, desenvolve trabalho de corretora no Programa Salvaguarda. Sua área de interesse é linguística.

“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.

Comentários
  1. Alda C.R. Soares

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