Ano 09 nº 123/2021 – Olhares
Por Fabi Hofsttäter Araújo
Fonte da foto: https://islamomisogyny.wordpress.com/2016/03/18/hiding-behind-the-burqa/comment-page-1/
Por qual motivo os olhares nesta foto nos remetem a sentimentos de desespero, raiva, dor, tristeza e ódio? Por que, como dizia Simone de Beauvoir, “basta uma crise política, econômica ou religiosa, para que os direitos das mulheres sejam questionados”?
Essa imagem, amplamente divulgada pela mídia em 2021, por incrível que pareça, o Talibã, uma milícia fundamentalista teocrática que persegue as minorias e as mulheres, retornou ao poder no Afeganistão após 20 anos.
Ah! Mas essas mulheres não são daqui, não nos dizem respeito. Oi?!?! Como assim? São mulheres lutando pelos direitos sociais e econômicos conquistados nesse período, estão em pânico tentando fugir de um governo que as causa desgraça e sofrimento, que se apropria de seus filhos, de seus corpos, como objetos, que as proíbe de trabalhar fora de casa, de estudar em escolas e universidades e, pasmem, de andar na rua sem a companhia de um homem, de aparecer na televisão. E as obrigam a usar a burca (vestimenta que as cobre dos pés à cabeça). Até o direito de sorrir lhes foi tirado.
Nosso dever é falar o óbvio diariamente e incansavelmente, de que não existe humanização sem a participação das mulheres, sem que elas sejam ouvidas.
Margaret Atwood, em sua obra “O conto da Aia” revela uma realidade que nos apavora e desconcerta, que se torna inacreditável, porém aflora a realidade que não aceitamos e custamos a acreditar do quanto somos odiadas por muitos homens.
“Ah! Mas no Brasil não tem chance de acontecer!” Acontece sim, todos os dias, com os números astronômicos de genocídio e violência doméstica, com governos que renegam a ciência, educação e cultura, com a desigualdade de gênero berrando aos nossos ouvidos, com a falta de empatia, o desrespeito com que tratam as mulheres do parlamento Brasileiro, etc.
“Gileade” é o Afeganistão, é o aqui, é o agora. SER MULHER É RESISTIR!