Ano 08 nº 089/2020 – Entardecer de junho
Por Julian Silva do Pinho
Entardecer de junho,
De quando o vento,
Soprava diamantes nas minhas costas,
De quando o lindo céu cor de rosa,
Com nuvens alaranjadas,
E detalhes em vermelho,
Que pareciam as folhas das árvores,
Caídas no chão,
Uma bela e memorável sujeira
Naquelas vezes,
Eu era mais moço,
Falava com o bêbado louco,
Via o dragão no fim da rua,
Via as roupas se quararem nos varais,
Até virarem pássaros,
Com bolinhas na ponta da cauda,
Manchas que cresceram no meu corpo,
Como uma história no povo
As casas azuladas,
Pela imagem das TVs ligadas,
O cheiro de podre,
Que vinha do esgoto,
Fazia as pessoas incharem os olhos,
E começarem a flutuar
Pegava-me refletindo,
Ao ver uma pomba,
Deixando cair uma pena,
“pobre bicho” pensava,
Mas não é assim,
Que as coisas são?
Nossas existências nesses vêm e vão,
Me refiro aos rostos,
Que caem como a pena do pombo,
De nossas mãos.
Numa festa,
No meio das praças,
Rindo da desgraça,
Passageiros do trem,
Que viraram estranhos,
Cantando as estrelas,
Fazendo declarações,
As suas garrafas envenenadas.
Por que estou tão nostálgico?
Naquele tempo era um imbecil,
Que só sabia versos,
Presos em seu mundo
Acho que em um livro,
Sou aquele capítulo esquisito,
Que ninguém entende,
Sinto-me naquele rio,
Que me fez andar nu sobre ele,
Sentindo aquela água fria
Mas aqui estou eu,
Fechando os olhos,
E sentindo esse pequeno feixe de luz no céu,
Entrar nas minhas pálpebras,
Escutando o vento,
Bater nas folhas,
E mexer os galhos das árvores,
Onde nem sequer existem árvores.
Vi todas aquelas pessoas,
Que combinaram e prometeram,
Desaparecerem,
Numa manhã nublada e abafada,
E voltarem ao entardecer,
Com os velhos espirais,
Rodando nas suas cabeças,
E foram embora de novo,
Como uma rápida chuva.
Julian Silva do Pinho, é alguém que gosta de trabalhar com música e palavras.
Imagem: Autor