Ano 10 nº 005/2022 – Educar ou restringir

Por Gilberto de Lima

Com o mundo ainda mais digital, como manter o controle dos conteúdos consumidos, especialmente por crianças em um contexto de pandemia?

Conteúdos infanto-juvenis inadequados para a faixa etária  infantil não é um problema recente, as roupas sexualizadas da Xuxa em seus programas infantis dos anos 80/90 são exemplos claros de falta de preparo para produzir esse tipo de conteúdo.

O Youtube sofreu pressão para alterar suas normas de conteúdo, especialmente para o público infantil, mas, ainda é possível encontrar tutoriais feitos para crianças que envolvam furadeira, ou morangos em água sanitária. Além de vídeos que sexualizam seus participantes em brincadeiras como pique-esconde. 

A fusão desbalanceada do mundo adulto e do mundo infantil ainda é uma questão presente no dia a dia de diversas formas, uma delas é a internet, e com ela sendo usada de maneira intensa por esse público, exemplo disso a Galinha Pintadinha e seus bilhões de visualizações, devemos estar sempre atentos ao conteúdo que os pequenos consomem online. 

Entregar uma tela para a criança é uma distração imediata, mas seu uso em excesso, ou não supervisionado, pode ser um problema grave. Agravando a situação, o ensino virou remoto, o trabalho também, a interação online se tornou indispensável para muitas pessoas, porém, esse combo de fatores requer cuidado. 

Hoje já existem ferramentas para bloqueio de conteúdos inadequados que podem ajudar a filtrar o que a criança e adolescente consome, mas estabelecer um diálogo aberto, sincero e acolhedor é indispensável já que uma hora ou outra algum tópico relacionado aos conteúdos filtrados poderá aparecer no convívio da criança. Lembrando do segundo episódio da quarta temporada da série original da Netflix britânica, Black Mirror, uma mãe paga por um chip que veta todo conteúdo inadequado até mesmo da visão da filha, sem haver conversa sobre o assunto, a filha começa a perceber que existe uma limitação colocada em seus sentidos e isso gera curiosidade na criança. Ao enxergar um mundo de possibilidades antes escondido e nunca debatido, vemos uma criança tomar atitudes sem noção de perigo para si ou para outros, como automutilação e consumo de drogas.

A mensagem da série se intensifica na era digital, o filtro de conteúdo pode ser uma ferramenta, mas não a solução do problema mesmo quando o filtro é elevado ao máximo (como um chip dentro da cabeça). A solução da questão se aproxima de um espaço confortável para a criança tirar dúvidas conforme vá descobrindo, e sendo apresentada à novas possibilidades em seu caminho, assim, cabendo ao adulto responsável usar a sua experiência de vida para guiar o desenvolvimento necessário à tomadas de decisões, para ponderar escolhas, mesmo com poucos anos de vida, baseando-se em seus critérios, para que atinja mais profundo do que um simples “minha/meu mãe/tio/irmão/professora/avô não deixa”. 

Gilberto de Lima

Entrei na UNIPAMPA em 2018 e desde 2019 faço parte do PET Letras. Pesquiso na área da Análise do Discurso e da Linguística, além de um grande interesse pela educação. Fora da universidade costumo fotografar, tirar tarô e fazer pão. 

“Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.

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