Ano 07 nº 031/2019 – Coluna da Taiza

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Por Taiza Fonseca

Vamos relembrar? O Movimento LGBTQI+ na cidade de Bagé.

No dia 30 de julho, em Bagé, ocorreu um ato contra homofobia na cidade. Cerca de 300 pessoas compareceram à Praça dos Desportos e desceram até a Praça Silveira Martins. Tal mobilização ocorreu por conta de um recente acontecimento na cidade: dois jovens foram expulsos de uma danceteria, de acordo com eles, por motivo de homofobia, visto que a expulsão se deu por conta da forma como eles dançavam e trocavam afeto.  Assim que o caso veio a público, as proporções foram aumentando, gerando um debate acerca da homofobia em Bagé. Nas redes sociais, as opiniões foram divididas e muitos questionaram o porquê desse fato ter sido amplamente divulgado e discutido. Uma das razões foi a violência ocorrida dentro do clube da cidade, todos cobravam esclarecimento sobre o caso e que os responsáveis por desferir a agressão contra os dois jovens se retratassem diante ao fato.

Lembramos aqui que o STF (Supremo Tribunal Federal) criminalizou a homofobia, em junho de 2019. Assim, todo aquele que discriminar uma pessoa por ela ser homossexual ou transsexual estará sujeito a uma punição de até três anos em regime fechado. 

Outra razão pela qual essa discussão causou grande comoção foi por conta da empatia. Muitas pessoas puderam se colocar no lugar dos dois jovens por terem vivências parecidas em relação à discriminação. Durante a mobilização, foi possível ouvir o posicionamento de diversas pessoas LGBTs e simpatizantes, além da solidariedade. Em seus relatos, foi possível conhecer histórias de pessoas que vivem com a insegurança de andar nas ruas por medo de sofrer com a LGBTfobia na cidade de Bagé. Com esses relatos emocionantes o ato foi encerrado, com uma promessa, a de que essas discussões tomarão as ruas com mais frequência.

Introduzo este texto relatando esse acontecimento para que possamos lembrar a história do movimento LGBTQI+  e suas reivindicações em Bagé. Em 2001, a primeira discussão para criar um dia da Parada Gay (como era chamado na época) foi duramente rejeitada e criticada, tendo quase voto unânime de rejeição [1]. A proposta voltou a ser apresentada na Câmara de Vereadores uma década depois, em 2013, enquanto um projeto de lei, para a criação de um Dia municipal contra a homofobia. A proposta voltou a ser discutida visto que em 2010, em Bagé, abriu-se um precedente para que,  no Brasil inteiro, a adoção fosse possível para casais LGBTQI+. Duas mulheres puderam compartilhar a guarda de duas crianças e, dessa forma, mudou a história de famílias no Brasil inteiro, que agora poderiam ter a guarda em conjunto de seus filhos adotados.

Dois meses após a proposta de 2013 ser feita, institui-se em Bagé a lei do Dia municipal de combate à homofobia [2], que seria comemorada no dia 28 de junho. Já em 2016, ocorre outro marco na história da luta contra o preconceito em Bagé, a primeira Parada LGBT na cidade [3], da qual fico extremamente feliz por ter feito parte da organização e da construção. A Parada aconteceu na Praça dos Desportos e contou com a participação de mais de 1000 pessoas. Durante o evento, ocorreram apresentações de dança, mesas de debate em que  psicólogos, estudantes, advogados discutiram sobre o preconceito em Bagé e no Brasil, e também com falas e relatos do público que participou.

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(Foto: Primeira Parada LGBT em Bagé, Bless Fotografia.)

Nesse primeiro evento foi trazido à reflexão como Bagé ainda cultivava valores conservadores e como a discriminação no dia-a-dia contra pessoas LGBTQI+ era comum. Lembremos aqui de Alanis Nicole Fox, mulher transexual, Miss Beleza Diversidade do Rio Grande do Sul, uma das atrações principais do primeiro evento, que foi assassinada em Pelotas no ano de 2018. Uma moça jovem de 29 anos, teve sua vida interrompida precocemente.

Em 2017, ocorreria a segunda edição do evento [4], logo após um Juiz do Distrito Federal ter protocolado o ‘’Cura Gay’’, que abriria precedentes para que a homossexualidade pudesse vir a ser considerada uma doença. Novamente o evento contaria com mesas de debate e atividades culturais. Ao longo dos anos, o evento foi criando uma estabilidade maior, e, em 2018, voltou a ocorrer, sempre mantendo o caráter de apresentações culturais, mesas de discussão, falas e participações do público. Encerrou com uma caminhada, com diversas reivindicações, dentre elas, uma homenagem a Alanis Nicole Fox [5].

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(3ª Edição da Parada da Diversidade em Bagé. Foto: Bruno Vargas)

Ao longo dos anos, os movimentos sociais em Bagé foram se consolidando e cada vez mais fazendo sua voz ser escutada. Esse é um breve relato sobre como ocorreu a consolidação do Movimento pela Diversidade em Bagé, que está sempre em constante crescimento e mudanças. Recentemente, a homofobia foi criminalizada em todo âmbito nacional, e a cidade de Bagé também deve seguir essas mudanças. Agora é lei, discriminar e violentar a integridade de qualquer sujeito por sua orientação sexual é crime. Estamos em um país onde a violência contra as pessoas LGBTQI+ é crescente. No ranking, ocupamos o PRIMEIRO lugar onde mais se assassina pessoas LGBTQI’s no MUNDO [6]. Isso é um dado extremamente preocupante e alarmante. Essa cultura deve ser urgentemente mudada e repudiada, pelo direito de ser o que se é, amar e viver sem medo. 

[1] – https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2013/03/projeto-reacende-debate-sobre-criacao-de-parada-gay-em-bage-4085754.html

[2] – https://leismunicipais.com.br/a/rs/b/bage/lei-ordinaria/2013/524/5239/lei-ordinaria-n-5239-2013-institui-o-dia-municipal-de-combate-a-homofobia

Evento da primeira parada LGBT em Bagé: https://www.facebook.com/events/pra%C3%A7a-de-esportes/1-parada-lgbt-bag%C3%A9-rs/1555921238044961/

[3] – http://www.qwerty.com.br/2016/07/24/bage-sedia-1a-parada-lgbt-neste-domingo/

[4] – http://www.jornalminuano.com.br/noticia/2017/12/18/parada-gay-debate-violencia-e-preconceito-contra-homossexuais-e-pessoas-trans

[5]-http://www.jornalminuano.com.br/noticia/2018/12/14/terceira-edicao-da-parada-da-diversidade-acontece-no-domingo?fbclid=IwAR3v0izbZHPa839B3yZ9FtAAyvuw-h2Vups7BYj6RzpAddtHbytLUr57P-4

[6] – https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/brasil-e-o-pais-que-mais-mata-homossexuais-no-mundo

Uma reflexão: Violência contra pessoas LGBT’s no Brasil, uma realidade: https://junipampa.info/cultura/uma-reflexao-violencia-contra-pessoas-lgbts-no-brasil-uma-realidade/#.XUSdyOhKhEY

Taiza da Hora Fonseca é Acadêmica do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Federal do Pampa, fez parte do Diretório Acadêmico de Letras no período de 2015 a 2017 e participou como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) no período de 2016 a 2018. Atualmente faz parte do Movimento Estudantil da Universidade e seus interesses são: Temas Transversais, Política e Movimentos Sociais, Literatura, Poesia e Arte.

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