Ano 12 Nº 066/2024 – Ecoou

Por Isabelly Nunes

Ainda é setembro. Hoje, dia 20. Neste mês fala-se sobre a prevenção ao suicídio… Eles  dizem que ninguém está sozinho, que você é forte e capaz de encarar qualquer desafio. Falam  que você tem muito pra viver e que morrer não resolveria nenhum dos seus problemas. 

Eles te convencem. Você segue em frente, sangrando. Mas segue em frente porque eles  dizem que você precisa encontrar seus motivos. Então você encontra e continua a nadar…  continuar a nadar. Por eles. 

E aí você renasce, porque aprende a viver por alguém.  

Você renasce porque entende que o suicídio devastaria outros corações também. Mas uma hora você cansa de se esconder atrás do sorriso. 

O sorriso é tão bem estampado, que parece até real. 

O objetivo deste texto é te contar sobre o que se passa na cabeça de todo depressivo.  De toda pessoa que já quis largar tudo. De toda pessoa que quase chegou lá e viu tudo ao  contrário e sentiu a maior dor do mundo, a do fim. 

Não é ingratidão à vida você se sentir fraco e infeliz. 

Não é pecado você sentir que não aguenta viver. 

Não é sua culpa a dor ou as dores que carrega. 

A sua mente te paralisa. Te cega e te conduz à escuridão de um caminho sem volta. Onde  não há esperança, não há alegria, não há amor. 

Você chega até esse lugar porque se sente sozinho. Porque se sente desamparado.  Porque não se sente amado por ninguém. 

Você levanta da cama com o intuito de ao final do dia esconder dos monstros que te  assombram os pensamentos. 

Você chora de repente. Sente calafrio. Tem crises de ansiedade. Não come. Não dorme  bem. Você não consegue se relacionar com as pessoas. Tem medo. É inseguro. E caminha pra  trás. Você recua, recua e recua… 

Quando você se sente mal, claro, VOCÊ ESTÁ SOZINHO! 

E o que você faz? Permanece sozinho, porque a única resposta que você tem é sentir-se  um incômodo, afinal, ninguém é capaz de entender a dor que SÓ VOCÊ sente. 

Para se reerguer, você acolhe o mundo. Você acolhe seus medos. Suas dores. Você  decide viver.  

VOCÊ SENTIU TODAS AS DORES QUE EXISTIAM DENTRO DE VOCÊ COMO NUNCA ANTES,  PARA QUE NUNCA MAIS DOESSEM COMO ANTES. 

Você provou que é forte. Você provou que conseguia. Você deu a volta por cima em  silêncio. 

O seu sorriso aos poucos foi se tornando algo natural e verdadeiro.

Você resgatou seus sonhos. Você disse sim para a sua verdade e não para as impiedades  do mundo. NÃO para o que não te cabia mais. 

E de novo você quis desistir. De novo se sentiu sozinha e incapaz. De novo largou mão  de tudo. De tudo, encontrou suas dores. 

Mas você já tinha aprendido sobre acolhimento e ressignificação. Você já tinha  entendido o porquê da sua existência. Você já descobriu as bondades do seu coração. A riqueza  das suas ações, a generosidade que possui. 

Então, enquanto o mundo desabava, você juntou todos os cacos despedaçados do chão  e fez dele um espelho onde podia se enxergar e dizer: EU ME AMO, ME ACEITO, ME ACOLHO,  RESPEITO MEU TEMPO E NÃO VOU DESISTIR DE MIM. 

Você provou o bom da vida. Você brilhou na simplicidade, no ato de existir com a  verdade e intensidade dos reencontros. Do seu reencontro e do seu infinito. 

Esse “você”, é milagrosamente, eu. Eu que silenciei o medo, silenciei a angústia. Silenciei  as crenças que me amarravam e saltei de paraquedas na frequência da vida. Sintonizei a batida.  Freei no momento exato. Questionei meus motivos e estou aqui.  

Estou aqui pra alegrar o viver de quem está perto. Pra continuar o propósito que me  colocou neste planeta. Pra contemplar as virtudes dos seres e aprender com suas fraquezas. 

Pra agradecer pela coragem que me permitiu sentir tudo que precisei sentir. Sozinha.  De bico fechado. Sentindo como se estivesse a sete léguas abaixo do mar, a profundeza do  desespero e da dor de uma criança que não foi ouvida, que não teve a mínima chance. 

Que perdeu muito. Perdeu pessoas especiais. Mas descobriu o sentido das coisas.  Reacendeu. Ressignificou. Despediu-se do passado. Entendeu o luto. Agradeceu pelo  aprendizado. 

Meu nome é Isabelly. Eu tenho 26 anos. Sou feita da pureza da criança, da inocência da  juventude, da perspicácia de um adulto, da sabedoria de um idoso que entendeu o significado  da vida. 

Eu enfrentei. Eu consegui. Minha vida é meu bem mais precioso.  

Se você pensou que iria te desencorajar, você errou.  

O mundo precisa da sua liberdade.  

DE QUEM VOCÊ É! 

Precisa das pessoas-pássaros magníficas e gigantes pela sua hombridade.  Generosas e acolhedoras. Pessoas que perdoam. 

Pessoas gaviões. Pessoas passarinhos. Pessoas borboletas. 

Pessoas sem medo. Sem vergonha. Sem aparências. 

Pessoas que, como eu, só querem deixar algo bom no coração de quem as encontrar. 

Isabelly é acadêmica do curso de Letras Português e Literaturas da Língua Portuguesa da Unipampa Campus Bagé. Escrevo palavras dóceis para tornar a vida mais leve e feliz.

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