Ano 12 Nº 044/2024 – Meu aniversário com a mulher sem cabeça
Por Maria Carolina
Direção:
Lucrecia Martel
Roteiro:
Lucrecia Martel
Produção:
María Victoria Menis
Oscar Azar
Elenco Principal:
María Onetto como Verónica
Claudia Cantero como Josefina
César Bordón como Marcos
Guillermo Arengo como Juan Manuel
Inés Efron como Candita
Daniel Genoud como Dr. Basel
Direção de Fotografia:
Bárbara Álvarez
Montagem:
Miguel Schverdfinger
Desenho de Produção:
Mercedes Alfonsín
Figurino:
Julieta Bertoni
Som:
Guido Berenblum
Catriel Vildosola
A Mulher Sem Cabeça (2008), dirigido por Lucrecia Martel, é um filme argentino que explora a psique de uma mulher em meio a uma crise de identidade e culpa. A história gira em torno de Verónica, uma dentista de meia-idade que, após atropelar algo na estrada, começa a questionar sua sanidade e a realidade ao seu redor. Após o acidente, ela faz sexo com seu irmão, ou não, e parece que todos são apaixonados por ela. Foi uma experiência interessante, a crise de identidade da personagem ao longo do filme, pois pude comparar com a minha própria, afinal, no dia que o filme foi exibido no festival de cinema, era meu aniversário de vinte e cinco anos.
O filme é notável pela sua narrativa fragmentada e atmosfera psicológica. Martel utiliza enquadramentos e sons de maneira magistral para criar uma sensação de desorientação que espelha o estado mental da protagonista. A câmera frequentemente foca em detalhes e perspectivas inusitadas, o que intensifica a sensação de estranheza e desconexão, extremamente angustiante observar essa mulher sem cabeça; o título é uma metáfora para a falta de qualquer decisão ou atitude que ela precise tomar na sua vida.
A atuação de María Onetto como Verónica é central para a eficácia do filme. Sua performance transmite uma vulnerabilidade e confusão palpáveis, que capturam a essência de uma pessoa lidando com um trauma não resolvido. O filme, de forma sutil, crítica a elite argentina, abordando temas de classe e privilégio, sugerindo que Verónica, e todos em sua volta, todos que ajudam a ocultar o que ela fez, ou deixou de fazer, prefiram ignorar as consequências de seus atos para manter seu conforto social.
A Mulher Sem Cabeça é um estudo profundo sobre culpa, memória e negação. Através de sua abordagem estilística única e narrativa ambígua, Lucrecia Martel oferece uma obra que convida à reflexão e interpretação pessoal, mantendo o espectador envolvido do início ao fim. Enquanto eu sabia que eu tinha vinte e cinco anos agora a minha cabeça estava bem no seu devido lugar.
Texto incluso no dossiê do XV Festival Internacional de Cinema da Fronteira. Confira: Festival Internacional de Cinema da Fronteira, fazer para existir
Maria Carolina é estudante de Letras – Português e suas respectivas Literaturas na Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, faz parte da equipe do Junipama, o jornal universitário do pampa, assim como do Sociedad Cineclub, é bolsista do Núcleo de Apoio à Aprendizagem Intercultural de Português como Língua Adicional e de Acolhimento – NAAIPLAA.