Ano 12 Nº 031/2024 – TRANSIÇÃO DE CARREIRA: VIVÊNCIAS DE UMA MULHER NA TECNOLOGIA

Por A.D’ÒSÙN.

Nesses últimos anos estamos passando por momentos difíceis, enfrentamos uma pandemia e  agora estamos acompanhando pelos noticiários catástrofes climáticas. Com tantas transformações não planejadas em nossas vidas, é impossível não refletirmos como ser humano. Sei que a autorreflexão deveria ser um exercício de vida e para a vida, porém muitas vezes por comodismo ou por estarmos soterrados pelas tarefas do dia a dia deixamos passar, fica para amanhã o planejamento.

Contudo, todas essas questões que passamos nos trouxe a sensação de impotência primeiramente e depois de finitude. Sim, sabemos desde o momento em que abrimos os olhos neste mundo que um dia eles se fecharão. Eu sei disso, mas estar face a face com a finitude, com a incerteza do amanhã nos faz acelerar este entendimento. Ficou muito cristalino entender que não é a velocidade e sim a direção que importa, e que, como diz o filósofo Mario Sérgio Cortella: “espero que o dia que a morte me encontrar, pois um dia ela vai me encontrar, ela me encontre VIVO”. 

Na minha interpretação desta ideia de Cortella, ele não fala só sobre estar respirando, mas sim de estar nutrido de sonhos, aspirações, desejos de realizações e de potência. Então é preciso fazer o exercício reflexivo quantas vezes for necessário e eu o fiz. Resolvi procurar algo que me proporcionasse aprimorar como ser humano(e assim como no dito popular não precisaria trabalhar nenhum dia). Resolvi me aventurar pelo mundo da tecnologia, um espaço majoritariamente masculino e eurocêntrico.

Bom, se a ideia era me desafiar, acredito que escolhi um caminho de mata bem fechada e cheia de pedregulhos. Mas a caminhada, embora ainda vagarosa, tem sido muito gratificante porque não tenho trilhado só os caminhos educacionais tradicionais mas também tenho me desafiado numa prática autodidata. Encontrei muitas comunidades de mulheres na tecnologia e tenho aprendido muito com cada uma delas e essa empatia e sororidade é importante, pois depois de uma madura idade é bem difícil mudar de rota, escolher outros caminhos, é preciso coragem.

Por isso, enquanto trilho esta caminhada pretendo também registrar “nesta nova coluna do Junipampa” os erros e acertos que aconteceram pelo caminho, as dificuldades e inseguranças, as parcerias que agregam, que a vida traz como um presente. Não pretendo falar só de tecnologia propriamente, mas também sobre afrofuturismo, que nada mais é do que relações étnico-raciais em conjunto com a ancestralidade presente em África e nas religiões de matriz africana; sobre natureza, pois a tecnologia tem seus protocolos de preservação e práticas tecnológicas que têm potencial para melhorar o ensino dessa cultura negra.  

Sou mulher, negra, de religião de matriz africana, entusiasta em tecnologia, admiradora da filosofia e por aqui podem me chamar de A.D’ÒSÙN.

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