Ano 11 Nº 027/2023 – 3 poemas sobre a Pampa
Por Giana Guterres
Depois de alguns meses sem aparecer, retorno com uma nova proposta para minha participação no Junipampa. A partir deste mês, trarei seleções temáticas com poemas da minha autoria.
Boa leitura!
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tão rápido já é inverno: a noite prematura
se aproxima como quero-quero,
sorrateira, o ar ecoa o frio até quase dentro da pele.
no solo forrageiro, alguém tece a lida entre ovelhas
a lã a geada como horizonte pronto desponta
mas, de ausência de seca, a pampa enrijece.
não há maciez no solo na alma na terra.
é uma espera, mas em breve tudo aparecerá:
o voo das tesourinhas, a cor vibrante de algumas flores. no fim,
mesmo a terra acompanha quem a ouve até a primavera.
no entanto, a artista celebra
com os pés uma dança sob o verde.
a geada é tão branca – emblema do frio que contrapõe a vida.
os pássaros espiam de alguma árvore até o inverno passar.
a vida no interior é tão vasta quanto palavras quanto horizontes quanto Louise*
* referência ao poema Primavera, de Louise Gluck
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existem tantos horizontes na planície, quanto a infinitude de formas que podem ter as gramíneas ou o som dos pássaros que vem do meio do mato. trago horizontes nos olhos como as mãos que semeiam a terra. cabe um horizonte sem fim no peito e isso não é exagero. talvez seja coisa de nascer nesta terra. de ter os pés fincados, enraizados, entrelaçados neste chão. o horizonte se tivesse fim ia além da melodia da canção que estende a nota para dentro do peito. gostamos dos paradoxos, de contrapor a horizontalidade da verticalidade, mas, o que aprendo no sul do mundo, é que a linha reta que se estende diante de mim também está para o vertical. se a verticalidade está para a elevação, posso dizer que está para o sublime, assim como quanto maior a horizontalidade, mais aproximação do que é elevado e sublime. quanto mais horizonte, mais proximidade do que é celeste. cabe um horizonte sem fim na alma e isso me atravessa tanto quanto um pássaro que rasga o céu de um horizonte ao outro.
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canta o grilo
canta a cigarra
canta o sapo
canta o passarinho
canta o galo
canta o tuco-tuco
debaixo da terra
acima da terra
de madrugada
de tarde
quando o sol de verão enche a terra
canta a criação à própria terra
canta o homem
mas é pra falar das conquistas do próprio homem
- um canto à pampa terra indomável
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Espero que tenha gostado da leitura e se quiser conversar sobre qualquer poema, sobre escrita ou qualquer outra coisa é só me procurar lá no instagram @giana.guterres
Com carinho,
Giana
Giana é escritora e produtora cultural, mestre em Comunicação pela UFPR. É autora de Eu, Passarinho, Como eu sobrevivi quando você trouxe o inverno para dentro de mim e editora da Revista Marcela. Também é idealizadora da Ocupação Literária, mediadora do Clube de Leitura Leia Mulheres e professora de escrita, criação cênica e produção cultural no Piano Studio Cheisa Goulart.