Ano 11 Nº 027/2023 – 3 poemas sobre a Pampa

Por Giana Guterres

Depois de alguns meses sem aparecer, retorno com uma nova proposta para minha participação no Junipampa. A partir deste mês, trarei seleções temáticas com poemas da minha autoria.

Boa leitura!

***

tão rápido já é inverno: a noite prematura

se aproxima como quero-quero,

sorrateira, o ar ecoa o frio até quase dentro da pele.

no solo forrageiro, alguém tece a lida entre ovelhas

a lã a geada como horizonte pronto desponta

mas, de ausência de seca, a pampa enrijece.

não há maciez no solo na alma na terra.

é uma espera, mas em breve tudo aparecerá:

o voo das tesourinhas, a cor vibrante de algumas flores. no fim,

mesmo a terra acompanha quem a ouve até a primavera.

no entanto, a artista celebra

com os pés uma dança sob o verde.

a geada é tão branca – emblema do frio que contrapõe a vida.

os pássaros espiam de alguma árvore até o inverno passar.

a vida no interior é tão vasta quanto palavras quanto horizontes quanto Louise*

* referência ao poema Primavera, de Louise Gluck

***

existem tantos horizontes na planície, quanto a infinitude de formas que podem ter as gramíneas ou o som dos pássaros que vem do meio do mato. trago horizontes nos olhos como as mãos que semeiam a terra. cabe um horizonte sem fim no peito e isso não é exagero. talvez seja coisa de nascer nesta terra. de ter os pés fincados, enraizados, entrelaçados neste chão. o horizonte se tivesse fim ia além da melodia da canção que estende a nota para dentro do peito. gostamos dos paradoxos, de contrapor a horizontalidade da verticalidade, mas, o que aprendo no sul do mundo, é que a linha reta que se estende diante de mim também está para o vertical. se a verticalidade está para a elevação, posso dizer que está para o sublime, assim como quanto maior a horizontalidade, mais aproximação do que é elevado e sublime. quanto mais horizonte, mais proximidade do que é celeste. cabe um horizonte sem fim na alma e isso me atravessa tanto quanto um pássaro que rasga o céu de um horizonte ao outro.

***

canta o grilo

canta a cigarra

canta o sapo

canta o passarinho

canta o galo

canta o tuco-tuco

debaixo da terra

acima da terra

de madrugada

de tarde

quando o sol de verão enche a terra

canta a criação à própria terra

canta o homem

mas é pra falar das conquistas do próprio homem

  • um canto à pampa terra indomável

***

Espero que tenha gostado da leitura e se quiser conversar sobre qualquer poema, sobre escrita ou qualquer outra coisa é só me procurar lá no instagram @giana.guterres  

Com carinho,

Giana

Giana é escritora e produtora cultural, mestre em Comunicação pela UFPR. É autora de Eu, Passarinho, Como eu sobrevivi quando você trouxe o inverno para dentro de mim e editora da Revista Marcela. Também é idealizadora da Ocupação Literária, mediadora do Clube de Leitura Leia Mulheres e professora de escrita, criação cênica e produção cultural no Piano Studio Cheisa Goulart.

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