Ano 13 Nº 15/2025 – 🦋 • — – As Mensageiras do Além…
Por: Bluuberry

Ilustradora: Friboi
“Há muito tempo é contada a história de uma pequena vagalume que sonhava com um mundo melhor. A vagaluminha, que já não acreditava na bondade no mundo, encontrou uma centelha de esperança em sua vida, e buscou aquilo que sempre quis: a paz. Ela procurou por anos, viajou o mundo e se maravilhou com belezas mágicas, mas no fim, nunca encontrou o verdadeiro significado da paz que procurava.
Então, após muitos anos, olhou para seu coração, e percebeu que a luz que procurava sempre esteve com ela, a cada dia, a cada aventura, formando laços e memórias preciosas para ela. A paz é tudo o que foi, é e talvez será, desde o nascimento até a morte.”
— Muito bem crianças, agora, é hora de dormir.
As luzes se apagam, e as crianças do orfanato dormem. Uma órfã de cabelos longos adormece após o fim da história nos braços de sua amiga, e mergulha em seus sonhos mais obscuros.
— “Eu sinto como se estivesse afundando, como se algo me puxasse para baixo, por mais que eu tentasse nadar para a superfície…”
“Estou ficando sem fôlego. Eu preciso escapar…”
— “Isso é o sentimento da morte iminente?”
“Você não pode fazer nada a respeito, apenas aceitar que é seu fim…”
“Isso é até que… Reconfortante.”
Antes de perder a consciência, a garota consegue ver alguém estendendo o braço para ela, na direção da luz, na direção da superfície.
Antes que ela pudesse segurar na mão da pessoa misteriosa, algo a puxa para baixo, e ela não consegue resistir.
— “O que acabou de acontecer!?
Esse sonho…”
“Eu me lembro de coisas parecidas.
Aquela mão luminosa é familiar, de algum modo…”
— Naomi!
— “Parece que Emma também já acordou, eu deveria me levantar.”
— Ei, você está bem? Você parece meio pálida…
— Eu…
Eu acho que tive um sonho estranho.
— Como assim?
— Não é nada muito importante, esqueça…
Vamos para o refeitório para tomar café da manhã, eu quero comer.
— Desse jeito!? Naomi…
Seu cabelo parece um ninho de passarinhos!
— Clara..!”
“Uma garotinha loira com seu coelho de pelúcia remendado… Ela é irritante, mas é uma boa pessoa. Eu acho.”
— Eu tô com fome…
— Naomi, eu e a Emma não vamos te deixar sair daqui parecendo uma mendiga.
— Vem aqui, vou pentear seu cabelo…
— Está bem…
Eu ainda tô com fome…
Após Emma pentear os cabelos da jovem por um bom tempo, já que ela possui cabelos muito grandes, ela se veste com roupas comuns dadas pelo orfanato. As três caminham para o refeitório, mas Emma decide ir ao banheiro antes de comer, então, apenas Clara e Naomi vão ao refeitório.
— “Não consigo deixar de pensar naquele sonho. Aquela mão…”
“Eu não me lembro…”
“Não me lembro de como cheguei nesse orfanato.”
“Eu apenas lembro de quando a Srta. Dolores me encontrou naquele bosque.”
“O que aconteceu antes daquilo… Quem eram meus pais? Onde eu vivia?”
— Uhm… Você está bem? Sério… Você tá comendo panquecas mas tá com a expressão de quem viu um cadáver ontem à noite!
— “Eu não consigo deixar de pensar nisso… Por que eu estou aqui?”
— Naomi!
— Ei! Me responda!
— …
A jovem dos longos cabelos pálidos se levanta, interrompendo sua amiga.
— Eu perdi a fome…
— Agora há pouco você tava reclamando que tava com fome, e você mal tocou no prato!
— Naomi, há algo de errado?
Emma chega ao lado de Naomi e pergunta com uma voz doce.
— Eu só quero tomar um ar fresco.
Naomi deixa Emma e Clara no refeitório e rapidamente passa pelo dormitório para pegar sua lira de madeira, antes de sair para o jardim para processar o que aconteceu anteriormente, em seus sonhos.
Ela se senta na varanda do orfanato, segurando sua lira, e continua a vagar pelos seus pensamentos, como em um pequeno trenzinho.
— “Por que eu estou ligando tanto para isso..?”
“Falando nisso, agora eu me lembro vagamente daquela voz.”
“A voz de uma garotinha, que para mim era muito familiar.”
— “Li…”
“Te…”
— “O que isso queria dizer..? Eu nem consigo me lembrar das palavras dela…
O que está acontecendo comigo? Eu nem sequer consigo pensar em alguma composição para essa canção…”
As mãos de Naomi tremem e ela está confusa, tentando entender o motivo do sentimento de incômodo que ela sente. Ao olhar para sua mão trêmula, percebe uma borboleta branca que pousou em seu dedo.
— “É tão bonitinha…”
“Eu não me importo muito com animais, mas eu gosto de borboletas.
Elas são mensageiras do além, afinal…
Pelo menos eu acredito nesse conto.”
A borboleta voa na direção do bosque, e o olhar de Naomi acompanha suas lindas asas brancas como a luz.
— “Mas o que…”
“Por que tem tantas?”
Ela percebe que há várias borboletas flutuando no jardim do orfanato, e sente como se isso fosse um “convite”.
A jovem se levanta da varanda, e caminha calmamente em direção às “mensageiras do além”. Ao atravessar os limites do orfanato, sente como se estivesse em um lugar completamente diferente.
— “Eu me sinto tão… Leve.”
“Essa floresta, sempre tão chuvosa… Mas aqui é diferente. Aqui, estranhamente consigo sentir o calor do sol no meu rosto. É reconfortante…”
Uma borboleta pousa em um Lírio de sua mesma coloração, quase como se aquela borboleta fosse parte da flor, de tão similar a ela.
Naomi se senta na grama e colhe o Lírio, o colocando em seu chapéu. Ela sentiu que precisava fazer isso, como se algo estivesse a induzindo.
— “Esse lírio, é como se me trouxesse um sentimento de paz contínuo.”
A garota segura sua lira e toca uma canção, em nome da paz, da liberdade e das mensageiras do além. A primeira canção a ser tocada na luz do sol, e a primeira vez que ela sentiu que a natureza fazia parte dela.
Várias borboletas voam pela paisagem da clareira na floresta, e tão rápido quanto chegou, saiu daquela clareira encantadora.
— “Eu voltei para o jardim do orfanato? Eu quase não me movi… O que foi isso?”
Naomi se vê sentada na varanda do orfanato, como se tudo isso fosse apenas sua imaginação, apesar de que… Ela ainda tem aquele lírio preso a seu chapéu.
“Eu deveria voltar para o orfanato, Emma e Clara devem estar preocupadas.”
“Mesmo assim, aquele lugar sumiu tão rápido quanto apareceu para mim. Esse lírio… Essa canção… Foi uma dádiva concedida pelas mensageiras do além..?”