Ano 08 nº 031/2020 – Desabafo em Quarentena / Taiza Fonseca
Todo dia olho para minha família com olhar terno e para os que estão distantes me sinto preenchida de saudades e medo, esse sentimento não me abandona, não importa o que faça, nem ao menos o cenário mais positivo me conforta. Será esse o sentimento de milhares? Sinto-me assim, enrolada em um fio de partilhas, de sentimentos interligados, dos quais ninguém escolheu partilhar.
Já tive sentimentos de toda natureza nesse período de isolamento social, medo, angústia, amor extremo, dor de saudade, e ainda que todos predominem, há um que me desassossega, que é a agonia em observar o “líder” desse país, que a pouco tempo atrás em entrevista proferiu a seguinte frase: “Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. Essa é a vida”[1] ao falar sobre ter consciência de que a infecção por covid-19 é letal e que muitas pessoas morreriam em decorrência disso. Ainda nesse período, o Jair Bolsonaro tratava a doença, que assola o mundo, enquanto uma leve gripe, um resfriadinho (sic), tornando-se um dos únicos presidentes do mundo inteiro a ser negacionista e também um dos únicos que atualmente é contra a quarentena, pois de acordo com ele, prejudica a economia (sic)
E essa falta de sensibilidade, empatia, irresponsabilidade e até mesmo ato criminoso, me choca na camada mais profunda, porque quando ele profere tais palavras ele desassocia a humanidade dessas pessoas. De fato, muitos morrerão mas os que estão a morrer são mães e pais que tiveram que continuar trabalhando, avós que pela condição frágil de vida não puderam resistir ao contrair o vírus, meninos e meninas na flor da vida que a deixaram sem conseguir dar o último suspiro, são sujeitos/indivíduos amados por alguém, pessoas que nutriam alegrias, medos, incertezas, sorrisos, paixão e amor em outro alguém.
Todos os dias vemos números, estatísticas, milhares morrem, os sistemas colapsam, profissionais da saúde trabalham em condições horríveis, a ciência perde investimento. Temos todos esses dados, dados e mais dados, mas não desassociemos esses dados da humanidade, esses números são pessoas, que tem história e que partilham conosco todos os sentimentos. Não nos curvemos para uma política desonesta e assassina, defendamos pessoas para que todas possam respirar amanhã. Vamos cuidar de quem a gente ama e de quem é amado por outras pessoas também! Por isso, os convido a desautorizar o presidente, fique em casa por todos que estão na rua, por nós.
(Papa reza sozinho na Praça São Pedro e perdoa o pecado de 1,3 bilhões de católicos. Fonte: Congresso em foco.)
Taiza da Hora Fonseca é Acadêmica do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Federal do Pampa, fez parte do Diretório Acadêmico de Letras no período de 2015 a 2017 e participou como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) no período de 2016 a 2018. Atualmente faz parte do PET – Programa de Educação Tutorial e seus interesses são: Temas Transversais, Política e Movimentos Sociais, Literatura, Poesia e Arte.