Ano 13 Nº 18/2025 – Nós mulheres não temos o direito de viver e nem de morrer em paz: O caso Rosimar.

Por: Ana Paula Fontoura Pinto

Fonte: Pixabay: https://pixabay.com/pt/photos/filho-choro-boca-colada-conceito-6088574/

A técnica de enfermagem Rosimar Oliveira da Silva, de 56 anos, desapareceu em abril deste ano após sair com o namorado, com quem estava há 3 meses, para comemorar junto com a sua filha o seu aniversário em uma adega na cidade de São Paulo. Segundo informações, ela desapareceu após sair do local.

Conforme as investigações, a vítima já está morta e estão à procura do corpo da técnica. O suspeito é o atual namorado que responde a um processo por parte de uma ex-namorada que o acusa de tentativa de feminicídio.  

Não temos paz nem para viver e muito menos para morrer. Faltam apenas alguns dias para o Dia dos Namorados e Rosimar faz parte de uma estatística nada romântica: segundo o Atlas da Violência 2025, houve um aumento de 2,5% do número de feminicídios em relação aos anos anteriores no Brasil, resultando em uma média de 10 mulheres assassinadas por dia.  Já o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, indicou que 65% dos casos de feminicídio ocorrem dentro de casa. 

Durante a Semana Santa, no estado do Rio Grande do Sul, foram assassinadas brutalmente 10 mulheres pelos seus ex e atuais companheiros. Tais assassinatos acenderam um alerta vermelho quanto à segurança das mulheres aqui no nosso estado, inclusive os movimentos ligados aos direitos das mulheres foram para as ruas exigindo uma atitude do governo em relação à vida das mulheres. 

Você, leitor, deve ficar se perguntando: O que leva uma mulher a se envolver com um cara acusado de tentativa de feminicídio?

O que leva uma mulher a aguentar uma vida de agressões e violações dos seus direitos humanos?

Mas eu pergunto a você: será que é  justificável a violência que a Rosimar sofreu?  Será que ela esperaria que o cônjuge que ela escolheu para ser feliz, fizesse isso com ela? 

Quero trazer para vocês alguns conceitos que valem a pena refletir antes de julgar uma mulher que passa por tantas humilhações e sofrimento.

Estava pesquisando sobre as perguntas que muitas pessoas fazem ao ver este tipo de reportagem e vi algo sobre o ciclo de violência da mulher. Vocês sabem o que é isso?

Desde sempre sonhamos com o príncipe encantado, graças à manipulação da mídia que nos leva, desde pequena, a acreditar no amor de conto de fadas; no amor à primeira vista. Quando encontramos a pessoa que cabe nos quesitos criados pelos contos de fadas, contados erroneamente pela mídia, acreditamos que encontramos a pessoa certa. 

Mas, como temos a certeza de que esta é a pessoa certa? No início do relacionamento, tudo são flores e paixão, pois o parceiro te trata exatamente da forma que tu desejas na finalidade de te dominar. Assim, bombardeada de amor, ela não percebe os defeitos que ele comete de forma sutil na frente dela.  

Após a vítima estar dominada, o abusador começa a criticar o seu modo de vida e a isola da sua rede de apoio. A partir daí, começa a primeira fase dos três ciclos da violência: os conflitos entre o agressor e a vítima, no qual começam as agressões verbais e até ameaças. Depois, a segunda fase, na qual os conflitos começam a ficar cada vez mais aguçados com o emprego mais contundente da força e a explosão do parceiro resulta em violência física. E a terceira e a última é a fase do arrependimento, em que o agressor promete que não fará novamente.

O leitor deve estar se perguntando mais uma vez: o que faz a mulher voltar para os agressores?

Historicamente nos relacionamentos estáveis, é a  mulher que abandona os seus sonhos e sua vida em prol da família, pois este foi o papel que nos foi delegado. Enquanto o homem caminha a passos largos na sua vida profissional, a mulher cuida da casa.

No entanto, esse esforço nem sempre é reconhecido. Muitas mulheres vivem uma vida de humilhações, agressões e desprezo por parte dos cônjuges e familiares e o trabalho de cuidar da casa e dos filhos é visto somente como obrigação.

Nossa sociedade é machista e misógina, talvez seja por isso que se tenha construído, ao longo dos anos, a imagem  da mulher como um ser de segunda classe, que teve seu papel designado para ser dependente e submissa, vista como um objeto de posse. O casamento é uma instituição que oprime somente a mulher! Nenhuma mulher quer casar para se divorciar pelo medo, em pleno século 21, de ser rechaçada pelos familiares e por não ter uma rede de apoio além ela mesma. A mulher tem vergonha de falar quando apanha do parceiro; medo de ser assassinada pelo parceiro com ou sem a medida protetiva na mão; medo de perder os filhos; medo de não ser validada pelas autoridades policiais e judiciais. 

A mulher em um relacionamento abusivo vive em uma montanha russa de emoções: ora calmaria, ora agressões. Portanto é muito difícil para a mulher sair de um relacionamento sozinha, pois ela PRECISA DE AJUDA!

Nós mulheres precisamos entender e reconhecer que o Estado brasileiro ainda não tem uma estrutura sólida para amparar mulheres em situação de violência, pois todas as poucas políticas ligadas à proteção das mulheres foram duramente afetadas durante o governo anterior. 

Também é muito importante termos em mente que não há problema nenhum em optarmos por viver sozinhas. É direito nosso escolhermos o destino de nossas vidas. 

Não é um relacionamento que determinará o nosso futuro, mas nós mesmas!

Referências
COUTO, C. . Brasil tem dez mulheres assassinadas por dia, segundo Atlas da Violência 2025: taxa média no Brasil foi de 3,5 por 100 mil mulheres. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil/brasil-tem-dez-mulheres-assassinadas-por-dia-segundo-atlas-da-violencia/#:~:text=O%20Atlas%20da%20Viol%C3%AAncia%202025,mortas%20por%20dia%20no%20pa%C3%ADs. Acesso em:  10 jun 2025
Defensoria Pública do Estado do Paraná. Ciclo da violência: saiba identificar as fases de um relacionamento abusivo. Disponível em: https://www.defensoriapublica.pr.def.br/Noticia/Ciclo-da-violencia-saiba-identificar-fases-de-um-relacionamento-abusivo#:~:text=Na%20segunda%20fase%2C%20tem%2Dse,aquilo%20n%C3%A3o%20ir%C3%A1%20se%20repetir%E2%80%9D. Acesso em:  10 jun 2025. 
SBT News. Caso Rosimar: polícia realiza perícia em celular de suspeito de matar técnica de enfermagem. Disponível em: https://sbtnews.sbt.com.br/noticia/policia/caso-rosimar-policia-realiza-pericia-em-celular-de-suspeito-de-matar-tecnica-de-enfermagem.    Acesso em:  8 jun 2025. 

Ana Paula Fontoura Pinto
Licenciada em Letras-Português e suas respectivas literaturas pela Universidade Federal do Pampa em 2013 e pós-graduada em Linguagem e docência pela mesma instituição. Possui o título de pós-graduada em História da Cultura Afro-brasileira, pela Universidade São Luís. Mestra em Ensino pela UNIPAMPA – Campus Bagé.

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