Ano 13 Nº 16/2025 – Há uma curva além da estrada 

Por: Jéssica Vitória Pinto Robledo 

Para além da curva da estrada 
Para além da curva da estrada 
Talvez haja um poço, e talvez um castelo, 
E talvez apenas a continuação da estrada. 
Não sei nem pergunto. 
Enquanto vou na estrada antes da curva 
Só olho para a estrada antes da curva, 
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. 
De nada me serviria estar olhando para outro lado 
E para aquilo que não vejo. 
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. 
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. 
Se há alguém para além da curva da estrada, 
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. 
Essa é que é a estrada para eles. 
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. 
Por ora só sabemos que lá não estamos. 
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva 
Há a estrada sem curva nenhuma. 

Alberto Caeiro  

Olá, querido leitor, aviso de antemão, que escrevi sobre as angústias do futuro porque tenho pensado bastante sobre o assunto, estou começando a aprender que tudo tem o seu tempo, que o amanhã não precisa ser repleto de preocupações excessivas, e o futuro não precisa ser algo temido. Quando penso diretamente sobre os desafios, incertezas e as surpresas que surgem no meio da jornada, lembro-me diretamente do poema Para além da curva da estrada, escrito por Alberto Caeiro, que escutei em um podcast de Bruna Martiolli. Esse é um poema que me atravessou profundamente, me trouxe conforto em meio a um período repleto de incertezas, desafios, realinhamento das rotas e pensamentos voltados ao futuro.

Muitos creem no “efeito borboleta”, que a vida é feita de ciclos, que cada mudança conduz a um amadurecimento, um novo nível, que todos os caminhos nos quais passamos nos aperfeiçoam, como, por exemplo, os processos que a lagarta passa até se tornar uma borboleta. No sentido literal é fácil entender, porém, quando aplicamos esse conceito para a nossa própria vida, quando algo sai fora do roteiro criado por nós, torna-se um “problema”, ou até mesmo um “fardo pesado’’. Pensamos muitas vezes em abandonar o barco, ou estagnar no meio da trajetória, esquecendo que a vida é feita de ciclos, recomeços, erros, acertos, e que nem tudo está sob nosso controle. 

Lendo o trecho: “Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. / Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer”, penso sobre esse trecho me vem à memória que é preciso desacelerar, olhar atentamente o lugar em que estamos, e tentar extrair o melhor do momento em que estamos vivendo, mesmo que sejam tempos complicados, mas que há beleza em estar onde estamos. Aqui, talvez, a beleza seja encontrada por meio de conversas com amigos que te escutem, uma xícara de café, o som da risada de quem amamos, momentos de qualidade em família, desenvolvendo um hobby novo, ou até mesmo olhando para trás admirando os passos dados até aqui, e as próprias conquistas. A beleza pode estar na maneira que damos significado às coisas. 

“Se nós tivermos que chegar lá, quando chegarmos saberemos”. Quantas vezes ficamos ansiosos pensando no amanhã, até mesmo nos comparando, porque temos que entregar um projeto, cumprir inúmeras demandas, e esquecemos o essencial: viver o hoje; quando o amanhã chegar saberemos lidar com as coisas, e caso não tivermos as soluções para as adversidades, como diz a querida Bruna Martiolli, “O que não tem solução solucionado está”. A única certeza que podemos ter sobre para além da curva (o futuro) é que há algo que nos espera além, que somente quando chegarmos descobriremos. Mesmo que tenhamos plantado sementes em uma terra fértil, por exemplo, cursado uma graduação, ou um técnico, trabalhado, cuidado da saúde física e mental, dentre outras maneiras de se desenvolver através da própria caminhada. A vida incontáveis vezes será incerta, e vamos ter que escolher os caminhos, as curvas. A curva sempre estará presente em nossas vidas, basta aprendermos a lidar e a viver no meio de desafios. Até breve, caro leitor.

Jéssica Robledo é graduanda do nono semestre do curso Letras/Português, na Universidade Federal do Pampa (Unipampa) — Campus Bagé–RS, bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) Letras desde 2023. “Esta é a coluna do PET-Letras, Programa de Educação Tutorial do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, do campus Bagé. O programa, financiado pelo FNDE/MEC, visa fornecer aos seus bolsistas uma formação ampla que contemple não apenas uma formação acadêmica qualificada como também uma formação cidadã no sentido de formar sujeitos responsáveis por seu papel social na transformação da realidade nacional. Com essa filosofia é que o PET desenvolve projetos e ações nos eixos de pesquisa, ensino e extensão. Nessa coluna, você lerá textos produzidos pelos petianos que registram suas reflexões acerca de temas gerados e debatidos a partir das ações desenvolvidas pelo grupo. Esperamos que apreciem nossa coluna. Boa leitura”.

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