Ano 04 nº 049/2016 – Resenha de “El baño del papa”
Flávia Azambuja
“El baño del Papa”em espanhol, ou “O banheiro do Papa” em português, ou “Les toilettes du Pape” em francês é um filme franco-uruguaio-brasileiro. O filme foi lançado em 2007 e tem a direção de César Charlone e Enrique Fernández. Charlone também foi responsável por “Cidade de Deus”, “Ensaio sobre a cegueira” e o “Jardineiro fiel”. Já Fernández não tem grandes sucessos em seu currículo, mas dirigiu filmes não tão conhecidos como “Otario”, dez anos antes de dirigir “El baño Del Papa”.
O filme mistura uma história real: a visita do Papa João Paulo II a Melo – Uruguai com ficção: como foram os efeitos sobre a vida de pessoas humildes que moravam nessa fronteira entre Brasil e Uruguai. Pensando em toda a problemática em viver na fronteira como: as relações entre fronteiriços, o contrabando, entre outros assuntos abordados. Três anos após a visita do Papa a Melo, Aldyr Schlee que não estava presente, escreve “O dia que o Papa foi a Melo”, lançado em 1991. Esse é um livro composto por dez contos, um desses contos “Melo era uma festa” parece ter inspirado o filme em questão, mas Schlee não aparece nos créditos do filme, o que causou grande polêmica. Segundo Schlee em entrevista ao jornal “Zero Hora”, a ideia é a mesma apresentada em seu conto, mas a personagem principal do filme não aparece em seu conto nem sequer aparece a menina que sonha em ser radioatriz, portanto o autor não se sente no direito de reclamar. Apenas considera triste que estejamos tão perto do Uruguai e tão distantes ao mesmo tempo, por isso considera seu imaginário literário limitado e distante.
Não é um filme fácil de ser assistido, em primeiro lugar para mim houve a barreira linguística, já que o filme é em espanhol e muitas sutilezas me escaparam por ainda não compreender a língua o suficiente. No entanto, mesmo quem não sabe a língua, assim como eu, pode assistir e ainda assim não perder a capacidade de se emocionar. Outra barreira ao assisti-lo é toda a pobreza apresentada, nem sempre é fácil lidar com a realidade, muitas vezes preferimos ver comédias românticas que em nada nos representam do que a realidade que muitas vezes vivenciamos.
Por outro lado, há facilidades também, por exemplo, a representatividade que percebi no filme como gaúcha. Os filmes brasileiros, em geral, parecem muito distantes da minha cultura, das minhas vivências, o que para mim parece ser uma influência do cinema hollywoodiano, algo que nos é mais fácil, mais palatável, mas bem menos representativo. O gaúcho, normalmente sente-se um pouco distante do resto do Brasil e aproxima-se do Uruguai e da Argentina. Há muitos elementos apresentados no filme que fazem parte do nosso cotidiano, tais como: a presença do chimarrão ou o mate como chamamos em Bagé, o churrasco, os freeshops, o contrabando, o portunhol, tais elementos me identificam como sendo quem sou.
Durante todo o filme, duas personagens chamaram muito a minha atenção, não só por serem as principais, mas também por serem tão próximas e tão distantes. A primeira é um pai de família que vive em extrema pobreza e que sustenta sua casa com muita dificuldade, mas que não deixa de sonhar. No filme, ele espera comprar um moto para facilitar suas idas e vindas entre Brasil e Uruguai, parece para nós algo pequeno, mas para aquela realidade é algo quase inatingível. Além disso, com a chegada do papa, deposita toda sua esperança nesse acontecimento, sonha em melhorar sua vida com a tão esperada visita. Assim, como personagens secundárias que investem seus parcos bens na perspectiva de uma melhora de vida. A segunda é a filha do personagem principal, que também sonha, sonha em ser radioatriz, algo que parece mais distante ainda e não recebe apoio de seu pai, mas ela não desiste. Dois sonhadores que parecem não compreender um ao outro.
O filme é recomendado para quem tem interesse por questões de fronteira, mas mais do que isso, acredito que o filme é recomendado a todos, sem distinção, por trazer questões que são pertinentes a todos nós. Questões como a dos personagens principais que vivem uma vida em meio a miséria sem ainda assim perder capacidade de sonhar, que são capazes de nos fazer sentir empatia por personagens tão singelas e tão profundas ao mesmo tempo. E empatia nunca é demais, afinal o mundo precisa disso.
Referências
http://www.epipoca.com.br/gente/filmografia/368519/enrique-fernandez Acesso em: 28. Mai. 2016
http://www.imdb.com/name/nm0153263/ Acesso em: 28. Mai. 2016.
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Banheiro_do_Papa Acesso em: 28. Mai. 2016.
http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2013/10/aldyr-garcia-schlee-trata-da-fronteira-imaginada-em-sua-literatura-na-setima-entrevista-da-serie-4314401.html Acesso em: 28. Mai. 2016.
Nossa massa demais o artigo, recomendo muito.
curti muito bem feito e facil de entender, valeu