Ano 13 Nº 64/2025 Impressões de uma Licencianda em Letras – Português e Literatura de Língua Portuguesa sobre os desafios da iniciação à docência
Jaqueline Pinheiro Dutra

Principais desafios enfrentados ao decidir retornar aos estudos
Voltar a estudar depois de muito tempo longe da sala de aula (quase 20 anos), foi um dos passos mais desafiadores que já dei, por longos anos essa foi somente uma ideia distante. Era como se eu estivesse tentando me encaixar novamente numa rotina que havia deixado para trás, mas que agora tinha um novo sentido. A primeira barreira foi o medo de não conseguir acompanhar os conteúdos (eu estava certa), de não conseguir organizar o tempo entre estudos e vida pessoal, vida profissional e também de não pertencer mais àquele espaço (Universidade) que, tantas vezes, parece feito só para os jovens.
Mas percebi que o retorno aos estudos não era um retrocesso e sim um recomeço com mais maturidade, pois no decorrer da vida diversas vezes pensei em voltar aos estudos, e a cada pensamento aparecia um motivo para adiar mais um pouco. Porém, em março de 2024, acabaram-se os motivos para adiar (considerei que os filhos estavam criados) e eu entrei na faculdade com medo mesmo. Minha escolha por Letras Português e Literatura veio da infância e do desejo profundo de estar próxima da linguagem, da leitura e da potência que a palavra tem de transformar o mundo e as pessoas. Ainda existem dificuldades, como lidar com as pressões do tempo, da produção acadêmica e da vida fora da universidade. Mas cada etapa vencida é uma confirmação de que estou no caminho certo, pois me sinto cheia de vida e em constante evolução e sem dúvidas, disposta a continuar nessa aventura chamada docência.
Principais desafios ao decidir formar-se professora
Escolher ser professora é escolher, ao mesmo tempo, resistir e acreditar. Ser professora de Língua Portuguesa e Literatura é assumir a responsabilidade de formar leitores, críticos e pensantes e isso não é pouco. O maior desafio tem sido lidar com a visão distorcida/ diferente (política), que encontrei na própria universidade, confesso que tenho me esforçado bastante para não entrar em divergências, pois sabemos que além dos desafios enfrentados hoje, terei que enfrentar a visão que a sociedade ainda tem sobre a docência, como se fosse uma profissão menor ou um “plano B”.
Além disso, a consciência de que estarei diante de jovens em formação, com realidades diversas, com dores e sonhos, me faz refletir constantemente sobre a minha postura, sobre o quanto preciso estar preparada não só intelectualmente, mas também emocional e socialmente. Ser professora não é só ensinar conteúdo, é construir pontes, abrir caminhos, criar espaços de escuta e de troca. Nesse período acadêmico passei por algumas situações as quais me demonstraram o tipo de professora que não quero ser, pois desde o início se escuta que professor ganha pouco, é desrespeitado e meu desejo é que, mesmo sabendo de todos esses problemas que sempre existiram no nosso sistema educacional, eu possa manter esse desejo de fazer o melhor todos os dias.
Em que a experiência com o PIBID colabora nessa trajetória
A experiência com o PIBID tem sido uma grande experiência na minha formação. Estar inserida no ambiente escolar, particularmente no CIEP (E.E.E.M. Luiz Maria Ferraz), me proporcionou um contato direto com a realidade da sala de aula, muito além da teoria que estudamos na universidade. Observar, dialogar com professores experientes, entender os bastidores da escola pública e, aos poucos, participar ativamente das atividades me fez enxergar a complexidade e a beleza da profissão docente. Toda preparação precisa contar com imprevistos, pois eles acontecem sempre: uma extensão que não liga, um projetor que não projeta, alunos que não levam os textos, um trabalho planejado para 15 alunos e aparece somente um aluno na data, enfim todos os percalços na docência nem sempre previstos.
Logo no início, durante as primeiras observações, tive uma experiência que me marcou profundamente: uma aluna, em tom de brincadeira, comentou “Ah, finalmente vão fazer alguma coisa”, dando a entender que, até então, nossa presença na escola parecia inútil para os alunos. Foi um choque. Senti como se todo nosso trabalho estivesse invisível. Mas percebi também que esse momento foi necessário para me posicionar. Precisava mostrar, com atitudes e ações, que estávamos ali com propósito e compromisso. E assim foi, pedi licença à professora regente (prof. Fernanda Saggiomo) e expliquei firmemente que estávamos aprendendo a ser professoras e, assim como todas as profissões, tem um começo e precisávamos ter coragem para estarmos ali diante deles como novatas. A partir dali, assumi uma postura mais ativa, mais aberta ao diálogo, e isso fez toda a diferença, senti por parte dos alunos respeito pelo nosso trabalho e todas as colegas gostaram da minha resposta e se sentiram representadas.
O que vi na escola que me estimulou a seguir nessa tarefa — e o que me desestimulou
O que mais me estimulou na escola foi o contato com os alunos. Mesmo com todas as dificuldades, há uma sede de conhecimento, uma energia pulsante que me contagia. Ver um aluno se interessar por um texto, participar de uma discussão literária ou simplesmente se sentir acolhido por nós, perguntar por mim em um dia que precisei faltar é algo que fortalece a minha escolha.
Também fui tocada pela dedicação de alguns professores do CIEP, que, mesmo em meio à eventuais precariedades, continuam tentando fazer da sala de aula um espaço de transformação. Esses exemplos me inspiram.
Mas nem tudo são flores. O que me desanima , e às vezes me entristece, é ver a estrutura frágil da escola pública: a falta de recursos (livros, salas adequadas, climatização), o acesso físico complicado (quando chove os alunos não comparecem) e o cansaço evidente dos profissionais (por vezes presenciei professores aos berros com os alunos). São elementos que exigem de nós, futuros professores, não só disposição para ensinar, mas também coragem para insistir.
Possíveis rumos futuros para minha trajetória e para o projeto
O futuro, para mim, ainda está em construção, como deve ser. Quero continuar me aprofundando nos estudos, talvez fazer uma pós-graduação. Desejo estar em sala de aula, sim, mas também contribuir com projetos que incentivem a leitura, a escrita e o pensamento crítico entre os jovens, auxiliando na construção de boas lembranças da educação, plantando assim sementes de que é possível ser realizada sendo professora.
Em relação ao PIBID, acredito que o programa cumpre um papel essencial: nos permite viver a escola antes de estarmos oficialmente nela. Isso nos prepara, nos desperta, nos forma e conduz por essa jornada da docência. Espero que ele continue existindo, que seja fortalecido e que mais estudantes tenham essa oportunidade de vivenciar, desde cedo, a realidade que nos espera, e que, de certo modo, já é nossa.
Voltar a estudar foi uma decisão corajosa. Ser professora é um ato político e afetivo (eu acredito firmemente que a família, o amor e a educação são o único caminho para uma nação forte e livre). E, mesmo com todas as incertezas, eu sigo com esperança e com amor pela educação.
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