Ano 13 Nº 51/2025 Um manifesto contra as coisas do jeito que elas são

Por: Flávia Machado Franco

Desde que me entendo por gente e tenho algum discernimento das coisas, se esse discernimento era bom ou ruim não importa, existe uma coisa que me irrita profundamente, me indigna até o fundo da alma e isso pode ser resumido na fala: “Pra quê? Não vai mudar nada”.

Nunca entendi muito bem as razões das pessoas serem tão conformadas  com as coisas do jeito que elas são. E se eu fosse perguntar para alguma dessas pessoas, a resposta seria o mesmo “não vai mudar nada” ou “as coisas sempre foram assim” (mesmo que talvez não tenham sido, a pessoa só não sabe ou não  lembra). O que parece é que ninguém se dá conta de que as coisas não mudam porque ninguém reclama, ninguém vai atrás, e quando elas mudam é porque alguém se dignou e foi lá dizer “Não, isso não está certo, não quero que continue assim”. 

Essa extrema conformidade e apatia está, infelizmente, em todos os lugares. São pessoas que não reclamam de injustiças que estão vivendo, pois “não vai mudar nada”, são cidadãos que não se importam em buscar um deputado ou vereador para votar, pois “o que vai mudar na minha vida se fulano for ou não eleito?”. São, até mesmo, os que não se deixam sentir quando algo frustrante ou triste acontece em suas vidas e, além disso, ainda se consideram mais maduros por isso, é um “me aconteceu -insira tragédia horrível- e eu não fiquei reclamando”. Não reclamou por quê, meu filho? 

Por conta dessa minha irritação tão intrínseca ao meu ser, decidi que, por meio desse texto, elaborar um manifesto contra as coisas do jeito que elas são. Afinal, por que precisamos que as coisas continuem como elas são? Por que continuar aceitando essa realidade onde, segundo os conformados, nada muda? Não, não, chega disso! Acabou! Vá agora mesmo reclamar de tudo que te incomoda, vai lá, bota pra fora! Reivindique seus direitos! Chore o que tem para chorar! Sinta, viva um pouco! Deixe de ser essa coisa plastada que não sente, não reclama, não se irrita e se conforma com tudo! Deixe de ser o indivíduo ideal para aqueles que querem que tudo continue exatamente como é para que continuem reinando no conservadorismo.

Quem sabe as coisas não mudam um pouco? 

É claro que esse texto não tem nenhuma intenção de autoajuda e nem propósitos milagrosos, as coisas não são fáceis de mudar e, normalmente, não conseguimos mudá-las sozinhos. O trajeto é uma rua de chão batido toda esburacada depois de um temporal, eu sei. Talvez você reclame e as coisas não mudem a princípio, mas ao passo que vamos falando sobre o que nos incomoda , dividindo nossas dores podemos ir construindo comunidades, nos encontramos com aqueles que sentem o mesmo que nós, que tem as mesmas indignações. E se vocês perceberem bem, quem tem feito isso é justo um grupo formado por pessoas que buscam manter as coisas como são ou como já foram em tempos piores. Por quem quer nos tirar direitos, quem quer que fiquemos calados e que vão dizer “é assim mesmo, aceite”. E esse grupo faz muito barulho, reclama bastante e elege deputados e vereadores que vão manter tudo como é, perpetuando a exploração e alienando o trabalhador (e, não se esqueça, o trabalhador é você mesmo aí do outro lado da tela), ou que vão piorar tudo e depois dizer que é como deve ser. Desde quando são os conservadores que se rebelam? Isso não te indigna também? 

E é o que eu busco reforçar com esse manifesto, encontre sua comunidade, exponha suas dores, não esconda o que te faz mal só porque supostamente os outros vão ver suas “fraquezas”. Quem se importa em se mostrar “fraco” ou não? Você aí é um ser humano, vai lá e chora! Vai lá e grita! Se não deu certo agora, tenta de novo semana que vem! 

Cansa? Claro que cansa e temos grupos de pessoas que já lutam há séculos que estão exaustos. Mas a gente continua. 

Estudante de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa na UNIPAMPA e bolsista do PET – Letras. Tem interesse na área de Análise do Discurso e Literatura fantástica e/ou queer. Secretamente todos os seus trabalhos são escritos pela sua gata, Mel.

Deixe seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Junipampa