Ano 13 Nº 41/2025 A última geração do analógico!

Por Andressa Costa

Cada dia vivido dentro do curso de Engenharia é uma nova descoberta, sobre o próprio curso, sobre mim e também sobre a vida. Essa semana em conversa com parentes queridos percebi que faço parte da última geração que conheceu o mundo analógico, que usou orelhões com ficha e ficou sentada na rua com seus amigos conversando durante o entardecer. 

Brincávamos de bolinha de gude, de futebol; de pipa; de boneca enfim nos sujamos durante as brincadeiras e assim logicamente temos muitas cicatrizes em braços, pernas e joelhos que hoje são testemunhas de aventuras vividas na doce infância, são quase troféus. Também por causa dos ferimentos leves que tinhamos ao brincar livremente pela rua, conhecemos um medicamento com habilidade para separar quase que instantaneamente a alma do corpo chamado: MERTHIOLATE. Era um líquido que vinha com uma espécie de pá plástica para passar nos ferimentos, um antisséptico de uso tópico capaz de proporcionar viagem astral aqueles que ousassem usá-lo. 

Por causa do MERTHIOLATE nós caíamos e continuavamos brincando, foi assim que descobrimos que a pele simplesmente cola na roupa se não for feito curativo. Logo surgiram as bandagens coloridas e com desenhos divertidos, era um mundo perigoso e divertido. As frutas eram comidas diretamente do pé, então nós subíamos nas árvores e nos desafiamos a pegar o fruto mais alto, geralmente era também o mais suculento. 

A rede social na época era o cordão da calçada, ali ficávamos por horas conversando e imaginando o futuro, cada dia um de nós buscava água em casa para dividir com seus amigos e nossas mães nos davam a tarefa de manter as garrafas da geladeira sempre cheias. Os telefones eram raridade e os poucos que tinham eram fixos no lugar, com um fio de um metro ou mais e tinha a opção de ter extensão desse telefone, sendo assim todas as conversas eram públicas, pois quem nunca ficou na extensão escutando o que o irmão conversava com seus amores, ou as novidades dos parentes. 

Era tudo mais difícil, menos líquido do que os dias de hoje mas também parecia mais mágico, as notícias eram via rádio, jornal ou televisão, tá a fofoca sempre existiu mas nunca foi veículo formal de informação. As novelas tinham horário pra passar e toda a família se acomodava em frente a televisão para ver o capítulo, quando chegava a vez da “novela das nove” sabiamos que já estava na hora de acabar a brincadeira, entrar para casa, tomar banho e jantar. Não existia stream, era tudo na hora que passava na TV, nossos pais apressaram compromissos para chegar em casa a tempo da novela ou do jornal. 

Mandava-mos cartas pelo correio para amigos que moravam longe e quando era algo urgente era enviado um telegrama, poucas palavras e sempre importante o assunto. As faturas eram guardadas com muito zelo, pois era muito trabalhoso conseguir segunda via das coisas, os documentos então eram preciosos, quase guardados em cofres e com várias camadas de plásticos protetores. As compras eram feitas diretamente nas lojas e as opções era o que a loja oferecia, quando vinha algum parente da capital trazia várias novidades e presentes que aqui nem sonhávamos que existia. 

Hoje é tudo mais fácil, são tantas opções que as vezes nem conseguimos escolher nenhuma. Se passar o horário da novela, tem uma série de aplicativos que podemos ver o capítulo do dia, os anteriores e muitas vezes até os que ainda vão passar em TV aberta. É a era digital, que aproxima quem está longe e nos torna vigilante para não afastar quem está perto. Consigo trabalhar e ver meu filho dormindo em casa, pagar minhas contas digitalmente, fazer um curso pelo celular enquanto vejo os lançamentos do cinema. Tudo

num toque, na palma da mão mas eu ainda carrego comigo aquela criança arteira e levada, que gosta da liberdade do ar puro, que sabe a doçura da fruta direto do pé. Desejo verdadeiramente que a tecnologia avance a cada dia mais e que nós, a pecinha da frente de qualquer tecnologia existente ou futura, nunca perca a nossa criança, nem nossa essência.

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