Ano 13 Nº 39/2025 Experiências, lembranças e reflexões: três olhares para o papel da supervisão no PIBID

Por: Eduarda Schneider da Silva, Josiane Redmer Hinz e Juliane dos Santos Porto

Atuar como professoras de Língua Portuguesa na rede pública permite-nos perceber a complexidade constitutiva desse trabalho e a necessidade de refletir sobre ele, buscando compreender como se dá a relação entre os saberes acadêmicos e os saberes práticos no desenvolvimento das nossas atividades docentes. Nesse sentido, ressaltamos que a oportunidade de participar de um programa consolidado de formação de professores como o PIBID é bastante enriquecedora para o nosso aprimoramento e também traz benefícios significativos para as instituições em que atuamos: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul – Bagé), Escola Estadual de Ensino Médio Silveira Martins e Colégio Estadual de Ensino Médio Prof. Waldemar Amoretty Machado. 

No IFSul, já tivemos a oportunidade de estabelecer uma parceria com a Unipampa na área de Letras, por meio do PIBID, em diferentes editais desde 2014. Acreditamos que essa aproximação entre as instituições é necessária e proporciona sempre períodos de bastante aprendizado para todas as pessoas envolvidas. Em relação à formação inicial, é visível o crescimento dos muitos alunos bolsistas que tive o prazer de acompanhar durante a participação no Programa em todos estes anos, bem como a construção deles como futuros professores. A oportunidade de vivenciarem a realidade das escolas desde o início da licenciatura é um diferencial significativo, visto que há uma preparação, juntamente aos colegas e aos professores (supervisora e coordenador), para a atividade docente futura. 

Já no que diz respeito à formação continuada, é de extrema relevância poder participar da consolidação da formação dos licenciandos, visto que isso colabora significativamente também para o aprimoramento do meu próprio trabalho no ensino de Língua Portuguesa no instituto. Nesse sentido, as leituras, discussões, trocas de impressões e experiências sempre fizeram com que eu pudesse refletir e reorganizar as minhas ações em sala de aula, trazendo inúmeros benefícios para os alunos e para a instituição em que atuo. Esse diálogo propiciado pelo PIBID, entre

coordenadores de área, professores supervisores e alunos das licenciaturas, é fundamental para melhorar a qualidade da formação docente e, consequentemente, do ensino nas escolas públicas, possibilitando uma contínua construção coletiva de saberes. 

Fazer parte do grupo de supervisoras do PIBID, atuando na escola Silveira Martins, significa para mim reafirmar e, de certa forma, renovar meu olhar sobre a docência. Ser professor de Língua Portuguesa, em minha perspectiva, é buscar contribuir para a formação de sujeitos reflexivos, críticos e sensíveis às questões sociais. É instrumentalizar o aluno por meio das mais diversas práticas sociais da linguagem, para que possa compreender, ampliar e questionar a sua realidade. 

Foi por meio da Universidade Federal do Pampa, campus Bagé/RS, que cursei licenciatura em Letras – Português/Inglês e respectivas literaturas, de 2009 a 2015. Durante o período da graduação, tive a oportunidade de ser bolsista de iniciação à docência, atuando na Escola Estadual de Ensino Médio Silveira Martins, de 2012 a 2013, e no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense, em 2014. 

As experiências como pibidiana possibilitaram o reconhecimento da realidade escolar, da organização docente e das diversas possibilidades de práticas dentro e fora da escola. Além disso, observo que os momentos de partilha com os colegas pibidianos e com a equipe foram de extrema valia em minha trajetória profissional, pois conseguimos vivenciar a prática aliada à teoria, através de diversas oportunidades de participação em eventos e produções acadêmicas. 

Esse aspecto foi decisivo para que eu pudesse realmente observar a importância do conhecimento teórico para a reflexão e ação enquanto docente já formada e atuante em escola. Destaco, ainda, que a experiência como bolsista fomentou a necessidade de buscar a formação continuada. 

Observando-me hoje, enquanto docente na rede pública de ensino e supervisora, na escola Silveira Martins, percebo o quanto o PIBID configura esse espaço de diálogo com a universidade, por meio do contato com as bolsistas e com teorias e metodologias possíveis. É tão significativo poder me reconhecer através do olhar das bolsistas, refletir sobre suas impressões durante as observações e as práticas e, também, poder estabelecer uma parceria afetiva entre o grupo para que possamos contribuir com a caminhada umas das outras.

Enquanto escrevo estas breves linhas, observando o lugar que hoje ocupo como supervisora no Colégio Waldemar Amoretty Machado, nosso querido “Poli” ou “WAM”, revisito diversos momentos especiais da minha trajetória como aluna do curso de Letras/Português. Iniciei como bolsista do PIBID durante a graduação, logo no primeiro semestre, e hoje atuo como supervisora, acompanhando novos licenciandos em suas primeiras experiências formativas. Experiências essas que são extremamente importantes para o futuro profissional de cada um. 

O PIBID, para mim, é mais do que um programa de iniciação à docência: é um território de subjetivação e de letramento profissional, onde o professor em formação aprende a ler e escrever sua prática com criticidade, escuta e autoria. Ao vivenciar situações reais de ensino, o licenciando é atravessado por discursos, afetos e intensidades que o convocam a experimentar a docência como prática ético-estética, deslocando normatividades e reconfigurando sentidos sobre o papel social da linguagem na construção de saberes. 

Como supervisora, percebo que o PIBID também é um dispositivo de formação continuada. A cada encontro com os bolsistas, revisito conceitos, atualizo práticas e reconfiguro minha própria identidade docente em devir. Essa dimensão reflexiva e colaborativa está presente em cada encontro, troca, olhar e em um constante exercício de resistência às macropolíticas que tentam homogeneizar a escola. Sou fruto do PIBID, e sigo sendo parte dele. 

Em tempos de precarização da educação e de discursos que desvalorizam o magistério, o PIBID se afirma como política pública potente, capaz de mobilizar micropolíticas de enfrentamento e criação, promovendo deslocamentos nos modos de pensar, ensinar e aprender. Ele nos ensina que ser professor é também pesquisar, escutar, errar, recomeçar e resistir com afeto, corpo e compromisso. Porque formar professores é, antes de tudo, habitar um campo de disputas e invenções, formando sujeitos-corpos capazes de transformar o mundo com palavras, gestos e presenças.

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