Ano 13 Nº 38/2025 Mãe Preta: as mãos que alimentam!

Por: Andressa Costa

Nesta minha nova aventura acadêmica, me deparei com um componente curricular chamado Introdução ao Pensamento Computacional, nele falamos basicamente sobre algorítimos e programação. No primeiro momento, pareceu um bicho de sete cabeças, mas ao decorrer dos estudos e leituras sobre o assunto, descobri que minha mãe foi a primeira programadora que conheci.

Sim, eu também fiquei surpresa, pois minha mãe é das ciências da saúde e passa longe das exatas de forma consciente. Mas eu entendi que algoritmo nada mais é que uma sequencia de passos lógicos a serem seguidos para se atingir um objetivo final com êxito, e isso é a base da cozinha: primeiro sabemos quantas pessoas vão comer; depois vemos quais insumos estão disponíveis; escolhemos a receita; descascamos e cortamos tudo para então cozinhar rumo a concluir a receita mais saborosa possível. Dessa forma é divertido pensar que todos nós temos uma programadora ou um programador em casa, que nós mesmos programamos a mais tempo que imaginávamos. 

Mas o mais curioso pra mim foi pensar que minhas ancestrais já eram programadoras talentosas e muitas delas antes mesmo do próprio  computador existir. Muitas delas eram chamadas de mães pretas. Esse termo se referia às mulheres escravizadas que alimentavam os filhos dos seus senhores, além de cuidar dos seus próprios filhos e de todos que viviam a sua volta nas senzalas.

Esse elo que cozinhar para alimentar cria vem desde os tempos primórdios, a cozinha é também afeto, é gesto de amor e carinho. Esse pensamento me fez ter mais afetividade pelo componente e uma melhor compreensão das coisas, pois consigo enxergar minha ancestralidade presente, consigo ver o quanto meus antepassados precisam ser à frente de seu tempo para poder sobreviver. Se eles conseguiram em situações tão adversas, não serão alguns números e uma tela de computador que irá me assustar. E entendi que, como programadora futuramente, ou em qualquer outra posição que eu ocupar no mundo da tecnologia, também necessito ser essa mãe preta que alimenta, pois existe todo um mercado de demandas para mulheres, mulheres negras e a comunidade LGBTQIAPN+ faminto por informação e formação. Um nicho que tem suas particularidades, como por exemplo, um aplicativo especializado em cuidados para cabelos afro; um aplicativo que nos conte a história do Brasil na visão dessas mulheres que alimentavam bem mais que pessoas. Elas cozinhavam para alimentar a estrutura de um país e, sem elas, passaríamos fome de cultura, pois a cultura negra passa oficialmente pela cozinha, seja em receitas ou nas regiões afro-brasileiras. Que essa ancestralidade toda me traga sabedoria para programar o meu futuro, o de quem está em volta e daqueles que vêm depois de mim!

Assim seja!

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