Ano 12 Nº 086/2024 – Manuela Munhos Poemas
Por Manuela Munhos/Tradução de Kyler Johnson
Existir
Enquanto escrevia cada palavra deste poema,
só conseguia pensar na minha existência
e no porquê dela.
Acredito fielmente que todas as pessoas
deveriam refletir sobre isso:
qual o sentido das nossas vidas
se não nascer, envelhecer e morrer?
Essa pergunta me fazia perder
muitas horas vagas do dia.
Precisava de um sentido,
pois nascer, envelhecer e morrer
não era suficiente para mim.
Somos um mosaico das pessoas
que amamos ao longo da vida,
somos a poeira deixada para trás,
somos os livros que folheamos,
somos as músicas que ouvimos
e os filmes que assistimos.
Somos o complexo de tudo
e, ao mesmo tempo, nada.
Somos muito, muito pouco.
Porque um dia iremos embora,
e se apenas nascermos, envelhecermos e morrermos,
seremos, sem dó, esquecidos no tempo.
Existence
While writing each word of this poem,
I could only ponder my own existence
and the why of it all.
Firmly, I believe that everyone
should reflect upon this:
What is the significance of our lives
if not to be born, grow old, and die?
I lost many empty hours
of the day to this question,
for to be born, grow old, and die
doesn’t satisfy me.
We are all mosaics of the people
we love throughout life, are the
dust we leave in wake of our stride,
are the books we finger through
and the songs that we listen to
and the movies that we watch.
we are the complex of it all
and, all at once, of none of it.
We are much, much too little.
For one day we’ll leave it behind,
and if we just exist, grow old and die,
without mercy, we shall be forgotten in time.
Mãe
Outros escritores me encontram
no deslizar de uma tela,
não sabem que escrevo,
mas o feed é só poesia,
e a alma, que insiste em viver,
precisa disso para respirar.
Lembro das regras de minha mãe,
impostas entre paredes de casa:
terminar o ensino médio,
entrar na faculdade,
sem pausas,
sem perder a linha da meada.
Falava das suas linhas perdidas,
da faculdade trancada,
dos filhos criados sem intervalo,
das escolhas que restavam,
nem sempre as mais sábias.
Dos pais que perdeu cedo demais,
dos feriados vazios,
dos Natais que desejava,
mas já sem jeito.
Eu, sentada na cama,
pensando em comemorar,
ela, do quarto ao lado,
me poupava:
"Se quiser sair, vá,
a mãe está cansada."
Com tristeza, eu a deixava,
porque era isso que pedia.
Lembro das poucas vezes que chorou,
disfarçando a dor nos cantos da casa.
Não sei se foi bom para mim,
porque agora, quando preciso chorar,
procuro a solidão,
como quem esconde um segredo.
Ela trabalhava dobrado,
e nas discussões, eu dizia
que odiava fazer salgados,
mas hoje entendo,
foi necessário.
Perdi parte da adolescência,
tentando ajudá-la
para não vê-la
carregar o mundo sozinha.
Vi uma frase num TCC:
“Dedico aos meus pais, que sob muito sol,
fizeram-me chegar até aqui na sombra.”
E minha mãe, que nunca se formou,
me faz chegar mais perto
do meu diploma
a cada dia.
Mother
I encounter other writers
with the sliding motion of a screen,
though they don’t know I write,
my feed is pure poetry,
and my soul, insistent upon living,
breathes for its presence
I remember my mother’s rules
imposed from wall to wall of our house:
I had to finish high school
and get straight away into college,
not leaving a second to breathe,
not losing the “momentum” of life.
She always spoke of her own lost momentum:
the college studies she had to drop out from,
raising two kids with no break between,
the other options that were left to her
unwise and impractical to follow.
She spoke of her parents, lost far too soon,
the empty holidays,
and of the Christmases she desired
together, forever impossible.
And me, upon the bed,
considering how to celebrate
and she, in the other room,
calling out,
“If you want to go out, go;
your mother is tired.”
And sadly, I’d go without her
because it was what she asked.
I remember the few times she cried,
hiding her pain in our house’s nooks.
For me, I doubt it was a good thing,
as now, when I need to cry,
I seek solitude
like those who have secrets to keep.
She worked double-time,
and in our discussions, I would say
how I hated making salgados,
and only today do I understand
how necessary it had been.
I left behind adolescence early
trying to help her
so I wouldn’t see her
burdened by the world alone.
I once saw a college thesis dedication:
“To my parents, who battled the sun,
who allowed me to arrive here, safe in the shade.”
and to think my mother, without her own degree,
who gets me closer to my own diploma
each and every day.
Me chamo Manuela Moreira, sou graduanda em Letras Línguas Adicionais na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), e atualmente estou no 4° semestre.
Kyler Johnson é o Fulbright English Teaching Assistant na UNIPAMPA do ano 2024. Originalmente de Des Moines, uma cidade no estado de Iowa, ele se sente bem em casa cercado da campanha do Rio Grande do Sul. Formado em Inglês e Escrita Criativa da Universidade de Iowa, ele é escritor, poeta e tradutor; para ele, o seu objetivo é construir pontes pelo poder das palavras.