Ano 11 Nº 079/2023 – Relato de uma pedagoga iniciante

Por Helouise Pedroso dos Santos

É de fato um desafio começar. O sonho guardado no peito de uma criança que agora se torna pedagoga. Mas antes de ser professora, é preciso saber ser aprendiz da vida, a percorrer um caminho infinito de constante aprendizado onde sempre tem um espaço guardado para um novo saber. É importante entender também que este caminho possui curvas, descidas e subidas, mas sempre um foco. É preciso ter um foco. Quando criança eu sonhei, na formação me preparei e agora encontrei o caminho. Este relato é para ti que compartilha comigo o amor inexplicável de um professor pela educação.

Me descobri professora aprendendo em uma sala de aula a escrever meu nome pela primeira vez, misturando o branco com o vermelho para encontrar o rosa e enquanto ouvia o som da voz da professora ao contar uma história. E essa voz, que encantava meus ouvidos e me ensinava a imaginar. Me descobri professora dentro da sala de aula, observando atenta os fazeres de uma educadora que cativava sem esforço, que cantava e encantava os alunos. Decidi ali, enquanto brincava de bonecas, que seria igual a ela.

No brincar livre em casa, fiz testes de teoria sem saber. O acesso livre a natureza, os bolinhos de barro, os banhos de chuva, a amarelinha riscada no chão e a escada sempre prepara para subir e comer uvas no pátio de casa. A brincadeira até tarde com meus irmãos e vizinhos, a interação e a descoberta de mundos imaginários, criados na esquina onde se encontravam as casas que viviam crianças. Viviam, não apenas moravam. Ah a infância, que preciosa que pode ser! Nestas experiências, tão bem guardadas no coração, construí memórias que me moldam hoje como profissional, aprendi ainda criança que o brincar livre faz nascer um adulto criativo na autonomia de ser.

Então, cresci. E na faculdade de Pedagogia me encontrei, me apaixonei pelas oportunidades que fui apresentada e aproveitei ao máximo para construir outras memórias. Nos estágios me realizei, percebi que certamente era aquilo que eu queria. Porém, preciso dizer que doeu, que incomodou e que fez chorar também. A realidade te estende a mão e te convida a conhece-la, te mostra entre janelas de salas de aula situações que chocam à primeira vista e que as vezes te tiram o ar. Janelas abertas, escancaradas para quem quiser espiar ali dentro,mas portas fechadas, poucos se interessavam em entrar. Eu entrei, uma aprendiz curiosa e com sede de conhecimento, que se incomodava com esse barulho silencioso de uma sala fechada.

De repente, estou em uma escola rodeada de crianças e adolescentes que precisavam de apoio, que queriam e tinham muito o que falar. Ouvi, enxerguei e abracei os anseios que me traziam, logo eu, uma guria nova que pouco sabia. Me vi perdida em corredores extensos que não me levavam a lugar nenhum. Doía, e a vontade de buscar conhecimento para atender estes educandos batia a porta e parecia que sussurrava ao meu ouvido: “Guria, para onde tu vais?” Por dias senti escorregar meu sonho entre os dedos, se distanciava a quilômetros do meu coração e as vivências que tinham ali guardadas, se escondiam. Mas, na medida que a realidade insistia em querer me amedrontar com o dia a dia, mais eu queria estar ali. Foi então que juntei todas as pedras do caminho e lembrei como era brincar com elas construindo uma torre alta.

Preciso dizer que estas experiências foram importantíssimas para construir minha trajetória como professora. Foi dentro das primeiras salas de aula, ainda como estagiária que de fato reconheci que minha vocação era ser educadora e que não me encontraria em outro lugar. Por vezes desejei um empurrão, ou que eu encontrasse entre as linhas de uma quadra a mão da professora que me inspirou. Mas não achei. Porém, encontrei outras centenas de mãozinhas, pintadas com tinta, segurando lápis e folhas. Todas me estendiam a mão, e num abraço marcavam meu coração com mais intensidade do que qualquer memória que eu tinha como combustível. Encontrei meu caminho numa estradinha de barro, marcada com pezinhos que iam para todo lado. Então, num suspiro de alívio eu sorri, entendi que meu lugar é onde um aluno está e que o caminho que eu desejava quando criança, será construído por outras mil.

Helouise Pedroso dos Santos é licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e pós-graduada em Educação Infantil – Abordagem Reggio Emilia, concluída pela Faculdade UNINA. Atualmente cursa uma especialização em Atendimento Educacional Especializado – AEE, pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). É funcionária pública municipal, atuando na EMEI Marianinha Lopes.

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