Ano 08 nº 129/2020 – O talento de Chica Xavier e Gésio Amadeu e a inspiração para as novas gerações/ Coluna do Jacinto
Por César Jacinto
Na semana passada, dois excelentes profissionais da dramaturgia brasileira nos deixaram aqui no Aiê (Terra) e com suas partidas para o Orum (Céu) ficamos aqui para perpetuar e defender os seus legados de resistência e persistência tão necessários numa sociedade excludente e racialista. Gésio Amadeu, faleceu aos 73 anos em São Paulo no último dia 05, vítima de Covid-19, que comprometeu o funcionamento do seu pulmão. No sábado 08, Chica Xavier, aos 88 anos fez a passagem, um câncer de pulmão recém diagnosticado foi a causa da sua morte.
Apesar de ótimos intérpretes, devido a cor da pele não formaram casais protagonistas, ou seja, o talento quando banhado pela cor acaba sendo sobre-pojado pelo racismo estrutural, que está transversalizado nas instituições de todo o Brasil. Ambos fazem parte de uma geração de artistas negros que não obtiveram o reconhecimento merecido das suas atuações, tornaram-se referências para outros atores e atrizes negros na arte de representar.
Chica Xavier, principalmente na fase mais madura, suas interpretações giravam em torno de mulher conselheira, angelical, como: Participou da série da educativa da TV futura com o título de Heróis de todo Mundo, onde interpretou a mãe de Santo Aninha, primeira yalorixá do tradicional terreiro, Ilê Opó Ofonjá; também foi Magé Bassã, uma Iyalorixá na série Ojuobá exibida na Globo em meados dos anos oitenta, dentre outras personagens.
Gésio foi o tio Barnabé na versão mais recente do Sítio do Picapau Amarelo, reforçando os personagens folclóricos destinados a negros que nossa dramaturgia sempre reservou, ou ainda outros ligados a negros escravizados como em Sinhá na primeira versão, interpretou Fulgêncio, um jovem escravo, já na versão de 2006 interpretou o personagem Justo de Sá, um sábio negro em fase idosa. Fez sucesso em Chiquititas no SBT com o personagem Tio Chico.
A importância da trajetória deles é inspiração para as novas gerações, que numa sociedade globalizada ainda enfrentam restrições subjetivas e buscam garantir espaços num segmento onde a imagem ideal ainda é de cor branca. Os desafios continuam sendo pesados, mas o exemplo do passado daqueles que enfrentaram as maiores segregações é o incentivo para que cada vez mais negras e negros possam ocupar lugares de destaque na teledramaturgia brasileira.
César Jacinto é professor, graduado em Pedagogia pela UERGS, com especialização em Diversidade Cultural e Mestrado em Ensino pela Unipampa. Escritor, cronista e pesquisador da História e Cultura Afro-brasileira e militante do Movimento Negro.