Ano 08 nº 122/2020 – O que acontece quando o livro termina? (texto zero)/ Coluna Adriano de Souza

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Imagem: Acervo pessoal do autor.

Por Adriano de Souza

O livro acabou, e agora? Você dedicou horas, dias, semanas da sua vida a ele e o que ficou em troca? Deixou de fazer outras coisas, de estar com pessoas para estar com ele e será que valeu a pena? Afinal, ler um livro é, de fato, uma experiência única e transformadora? O que acontece quando o livro termina?

Esse é o título que proponho para esta coluna e, nela, me proponho a compartilhar minhas experiências de leitura (sobretudo literárias, mas não apenas), aceitando, assim, o espaço proporcionado pelo Junipampa e dele fazendo uso para tornar público escritos, aos quais chamarei aqui diário de bordo.

Embora eu seja professor da área de Letras, com formação em literatura e linguística aplicada e com atuação docente na área de formação de professores de português, produção de texto e letramento, gostaria de utilizar este espaço para fazer circular impressões de leitura, em linguagem intencionalmente relaxada e sem o compromisso direto de gerar conhecimento útil e pertinente para o campo de estudos.

Mas então voltando ao mote, o que acontece quando o livro termina?… Certa vez me fizeram essa pergunta e, desde então, nunca mais deixei de fazê-la a mim. Eu tinha concluído a leitura dos sete tomos de “O tempo e o vento” do Érico Veríssimo e estava completamente em frangalhos, mas estava faceiro também, daquela faceirice que só se experimenta quando se termina a leitura de uma obra de fôlego… Foi, na época, de fato, uma experiência muito intensa, corta.  Eu me encontrava frente a um interlocutor conhecido meu e dizia “bah…, acabei ‘O tempo e o vento’ do Érico, baita leitura… tem que ler”. Ao que o outro me respondeu meio desinteressado, “ah é… E o que acontece quando o livro termina?”. Foi o suficiente para me derrubar, gaguejei, cacarejei, mas aquela pergunta parecia que não tinha resposta.

As pessoas esperam uma finalidade prática à altura do empreendimento emocional, afetivo e financeiro depositado. Há que sopesar, contabilizar, pôr na balança para saber se vai valer a pena. Foi-se o tempo em que tínhamos tempo a perder, a eficiência é a ordem. Não julgo ninguém por isso e, sinceramente, desconfio que haja argumentos irrefutáveis capazes de convencer alguém a dedicar centenas de horas de sua vida à leitura de uma obra, em vez de dedicar essas mesmas horas fazendo qualquer outra coisa. Para lembrar do poeta português, não há nada mais maçada do que ter de ler um livro por obrigação.

Então, um pouco para distrair a espera por D. Sebastião, por seja-lá-quem-for ou pela próxima eleição, tenho tentado me convencer que há qualquer coisa de interessante que acontece quando o livro termina e é sobre isso que falarei aqui. Meu projeto de leitura atual é a leitura da obra quase completa de Machado de Assis e de Lima Barreto, alternando os autores, mas seguindo a cronologia das obras, ou seja, do primeiro ao último livro de cada autor, mas intercalando-os: começarei por Ressurreição de Machado de Assis, depois lerei Recordação do Escrivão Isaías Caminha do Lima Barreto, depois o segundo de Machado, o segundo de Lima, o terceiro de Machado, assim por diante, um texto a cada quinze dias, pelo menos. A ver o que acontece no fim.

Ah… E o que esperar desse diário de bordo? Nada de muito especial, talvez, apenas o que acontece quando o livro termina.

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Adriano de Souza, no mundo, é só mais um. Em seu país, não é mais do que ninguém. No Rio Grande do Sul, nasce a cada mês de julho. A Santa Maria volta sempre que precisa se reencontrar. Em Camobi, amarelou seus verdes anos. Em Bagé faz análise. Em casa, pelas cordas do violão, vai tocando a vida, às vezes desafina, outras não.

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