Ano 08 nº 080/2020 – Mês do Orgulho LGBTQIA+, a sigla e sua representatividade

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Fonte: O Imparcial

Por Willians Barbosa

Junho é o mês que se comemora o Orgulho LGBT. A comemoração se originou em 28 de junho de 1969, quando um bar – de público homossexual – chamado Stonewall sofreu um uma violenta batida policial, em Nova Iorque (EUA). Vários indivíduos foram espancados e presos indiscriminadamente, o que resultou na que ficou conhecida como Rebelião de Stonewall, que durou seis dias consecutivos.

De lá pra cá, o movimento LGBT sofreu muitas modificações, perdas e vitórias. Inclusive, em 2019, a polícia de NY pediu desculpas pela repressão de cinquenta anos atrás. É, dito superficialmente, uma luta lenta, em que cada conquista gera contrabalanços; e sangrenta, pois ainda muita gente morre em decorrência da homo, lesbo e transfobia.

Uma das estratégias do movimento se dá em torno da sigla que a denomina. O primeiro acrônimo, que posteriormente caiu em desuso, foi GLS, que designava gays, lésbicas e simpatizantes. Depois veio LGBT, que também sofreu modificações: LGBTQ, LGBTI, LGBTQIA, entre outros. São tantas siglas que a gente fica em dúvida de qual a mais correta a usar. O ‘’LGBT’’ é a que pode ser chamada de ‘’oficial’’, por ser a que órgãos governamentais, por exemplo, usam. No entanto, ela já nos parece vaga e excludente.

E é justamente esta a ideia: embarcar o máximo possível de sexualidades diferentes. As nuances, que antes não eram levadas em conta, passaram a ser. Mas… que nuances são essas? O que há além de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais? Como podemos explicar didaticamente a quem não sabe e quer entender? Ou, caso sejamos nós os leigos, como devemos enxergar?

Primeiro, temos que considerar a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual. A primeira compreende o modo que nos enxergamos (que nos identificamos). Ou seja, somos cisgêneros se nos identificamos com o corpo com qual nascemos, ou transsexuais se nos identificamos com o gênero oposto. Aqui, há tanto aquelas pessoas transexuais que se submetem à redesignação sexual, quanto aquelas que não fazem nem questão de cirurgias. Nenhuma delas, vale salientar, é mais ou menos homem ou mulher por passar por operação.

O segundo ponto, a orientação sexual, se refere a quem nos sentimos atraídos sexualmente. Isto é, ao gênero oposto (sendo então heterossexuais), ao mesmo gênero (sendo homossexuais) ou com ambos os gêneros (bissexuais).

 

Básico. Porém, foram sendo adicionadas outras orientações, outras identidades, que causam ainda muita confusão. A ver.

Uma das siglas alternativas para LGBTQIA+ é com o T triplo, exatamente para se dar uma atenção especial a essas pessoas, que geralmente são rotuladas da mesma forma. Todavia, são elas, além das transexuais, as travestis e os transgêneros. Travesti é um termo brasileiro, cujo uso, nos dias de hoje, é politizado. Quem atualmente se define travesti, e não de outra forma, o faz para ressignificar um termo que historicamente foi marginalizado. Transgênero é um termo abrangente, atribuído a qualquer identidade de gênero que não cisgênera, seja ela qual for. É aí que as coisas ficam mais subjetivas, dando entrada às já referidas nuances.

O queer é um desses exemplos. Vindo do inglês, traduzido como ‘’excêntrico’’, se refere a qualquer pessoa que não se encaixa no padrão heteronormativo. O Q da sigla pode ser também de ‘’questionando’’, para as pessoas que estão em dúvida sobre sua sexualidade. O I da sigla, intersexuais, tem um vasto campo de estudo. Ele pode ter implicações biológicas, em que o indivíduo nasce com uma genitália ‘’ambígua’’ (não hermafroditas, casos raros em que se nasce com a genitália feminina e masculina). Porém, para ser considerado intersexual, a pessoa deve apresentar essa atipicidade também no cérebro, somada a dos órgãos genitais.

À parte, temos os assexuais que, na verdade, não se referem a uma orientação, e sim à falta de orientação sexual. Eles se distinguem dos allosexuais, que são aqueles que sentem atração sexual. Ao seu lado, encontramos os arromânticos, que não sentem atração romântica por outras pessoas. Os assexuais podem ser arromânticos ou não; os arromânticos, por sua vez, podem ser sexuais ou allosexuais. Dentre esse grupo, há os assexuais estritos e os grayssexuais. Há os demissexuais, que são assexuais que podem sentir atração sexual, caso exista vínculo emocional. Os frayssexuais, que sentem atração sexual apenas quando NÃO há vínculo afetivo. Entre inúmeras outras definições de orientação romântica e/ou sexual, que não cabe aqui esgotar.

O A da sigla pode igualmente se referir a sem gênero e à simpatizantes. Na sigla mais guarda-chuva de todas, a LGBTQQICAPF2K+, encontra-se o C, de curiosos, que dispensa definições.

Entre as novas, a sexualidade que ganhou mais adeptos nos últimos anos, bem como espaço e representatividade na cultura moderna, está a panssexualidade. Envolta em tabus e injustiçada ao ser definida como “bissexualidade gourmet”, a panssexualidade é a atração sexual independente do gênero. Enquanto a bissexualidade é a atração por homens e mulheres, e está definida dentro da binaridade de gênero, a panssexualidade não se restringe à essa binaridade. Esta binaridade de gênero ganha sentido quando pensamos em conceitos como pessoas não binárias, gênero fluído e gênero neutro.

Há de pontuar também as tentativas de modificar a nossa língua para uma não-binária, com a inclusão de ‘’e’’ ou ‘’x’’ nos adjetivos, proposta para uma discussão ulterior. Longe de definições estanques, o propósito é viabilizar o pertencimento de todes em uma sociedade mais igualitária. E sobre as identidades e gêneros que vão ganhando nome, é importante vê-los como cores, que precisam se misturar umas às outras para surgirem novas. Tal qual o arco-íris.

Formado em Jornalismo pela Universidade da Região da Campanha, Willians Barbosa tem 26 anos, nascido e reside em Bagé. Escorpiano com ascendente em Peixes. Escritor procrastinador. Ocupa seu tempo com tudo que tenha a ver com cultura, desde livros e gibis até filmes, séries e música. Desde que iniciou a quarentena, vive em constante crise existencial.

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