Ano 08 nº 055/2020 – Carta aberta aos pais dos alunos
Imagem: encurtador.com.br/divT9
Por Flávia Azambuja
Olá, senhores pais,
Começo dizendo que espero que estejam enfrentando esse momento difícil que vivemos, em meio a uma pandemia, da melhor maneira possível, que estejam se cuidando e cuidando dos seus.
Os momentos difíceis podem ser os mais transformadores, mas pra isso é preciso que mudemos nosso olhar, nosso olhar pra nossa família, pro nosso trabalho, pra educação, pra nossa relação com o mundo, isso não é fácil e só com muita empatia conseguiremos.
E é disso que pretendo falar hoje, empatia, que segundo o dicionário Michaelis é a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa. Alguns vão dizer que não existe empatia, que é impossível se colocar no lugar do outro, o que concordo. Mas aqui, falo de reconhecer o que o outro passa por meio de um sentimento. Todos nós dizem que, exceto os psicopatas, temos os neurônios espelhos que fazem com que justamente eu consiga identificar sentimentos no outro e reconhecer algo semelhante em mim. É disso que falo quando falo em empatia. Se fizermos isso, com certeza sairemos mais fortes e melhores dessa situação.
A situação que vivemos é difícil pra todos, consigo imaginar a insegurança que deva sentir em alguns momentos porque eu também a sinto, consigo imaginar a solidão, a angústia, a sensação de impotência. Acredite, já senti o mesmo.
Não sou mãe, mas imagino o quanto seja duro ser mãe/pai ou qualquer pessoa que exerça esse papel nesse momento, perguntas devem ecoar em sua mente. Que mundo quero/vou deixar pro meu filho? Como a educação do meu filho não sairá prejudicada dessa história? Entre muitas outras…
Acredite, penso nisso o tempo todo e sei que, se não todos, quase todos meus colegas professores também pensam. Estamos fazendo o nosso melhor.
Como muitas vezes acontece com a educação, não tivemos tempo de nos preparar. Não tive tempo de pedir que meu aluno levasse o livro pra casa, o que facilitaria bastante a vida dele e a sua, mas acredite bem mais a minha. Não tive tempo de pensar ou quem sabe até fazer um curso sobre educação a distância pra preparar as melhores aulas. Não tive tempo nem de terminar o que havia começado com eles ou de me despedir e desejar que se cuidassem e dizer que podiam contar comigo.
Além disso, outras questões me/nos inquietam, se seu filho consegue fazer as atividades e me enviar, ótimo, mas o que fazer com aquele que mora “pra fora”, que não tem acesso à internet, que às vezes nem sinal de celular tem? Recebi áudio de uma aluna, contando que pra ela conseguir visualizar as mensagens enviadas, tinha de sair de casa e caminhar, até que encontrasse um local com sinal. Isso é justo? É certo? Com certeza não. A internet não é o espaço democrático que gostaríamos, talvez nem a escola presencial muitas vezes seja, estamos longe do ideal, mas a educação presencial ainda é a que menos exclui.
Ainda assim, de repente, viramos youtubers, gravamos, regravamos, editamos e postamos. Sabe se lá como conseguimos, usando nossos equipamentos, como muitas vezes fazemos na escola por falta de outros. Estudamos, pesquisamos e aprendemos muito, nem tudo é ruim, mas é sim cansativo, exigente. Nos desacomodamos, saímos da rotina. Isso é ser professor, a educação muda, talvez a educação a distância seja a educação do futuro, temos e teremos sempre de nos reinventar.
Por isso, pais, procurem não criticar, falar com outros pais, diretores e quem sabe até com a Secretaria de Educação, sem antes falar com o/a professor(a) do seu filho. Acredite, todos ganham com isso, conheça o/a professor(a), saiba quem ele/ela é, porque toma determinadas decisões. E faça isso não só em tempos de pandemia. Vá às reuniões, busque o boletim do seu filho, vá a escola mesmo sem ser convidado, a escola também é sua. Será um prazer conversarmos sobre a educação do seu filho.
É importante que você saiba que existem documentos legais e teóricos que orientam nossa prática. Além disso, para dar aula, estudamos pelos menos quatro anos, muitos fazem especialização, lá se vão mais 2 anos, conheço alguns que tem mais de uma especialização, outra graduação, mestrado e por aí vai. Fora os cursos de curta duração. Sem falar no quanto nos preparamos para cada aula, buscamos material, criamos o nosso. Então, exerça a empatia, tente identificar e reconhecer sentimentos parecidos, nós estamos tentando fazer isso. Vamos aproveitar pra fazer as mudanças que o tempo nos exige.
A educação também muda, apesar de lentamente, e você pai pode/deve acompanhar essas mudanças, sei que nossa tendência é nos lembrar de como era quando estudamos, isso é perfeitamente natural. Mas lembre-se também, os/as alunos(as) são outros(as), os/as professores(as) são outros(as), a sociedade é outra. Não tem como a escola ser a mesma. O que não deveria mudar é apoio dos pais aos seus filhos e aos(as) professores(as). Acredite, só queremos o melhor de cada aluno, que cada aluno possa chegar o mais longe que conseguir, que realize sonhos, que transforme o mundo e que seja feliz. Sei que você também quer o mesmo, nunca estivemos em lados opostos, espero que a partir de agora estejamos cada vez mais juntos.