Ano 07 nº 043/2019 – SOBRE SER PROFESSOR E ENSINAR E APRENDER COLABORATIVAMENTE
Por Suzana Linhati
Suzana Toniolo Linhati é formada no curso de Letras – Língua Espanhola e Respectivas Literaturas (UFSM), especialista em Psicopedagogia Institucional (FESL) e em Tecnologias da Informação e da Comunicação aplicadas à Educação (UFSM) e, atualmente, cursa Mestrado Profissional¹ em Ensino de Línguas pela UNIPAMPA/Bagé. Em Santa Maria/RS, trabalha em duas escolas particulares, dá aula em um curso preparatório ENEM e atua como tutora no curso de Letras – Espanhol e Literaturas EaD (UFSM).
A sexta havia amanhecido gelada, com um vento calmo, porém intensamente glacial. Os campos, embranquecidos pelas gotículas de gelo, anunciavam que o dia seria rispidamente frio. Frio este que não se fez presente na aula de Metodologias de Ensino-aprendizagem de Línguas Adicionais do programa de Mestrado Profissional em Ensino de Línguas.
Cheguei na UNIPAMPA, campus Bagé, por volta das 07h50 para mais uma aula. Fui a primeira a fazer-me presente na sala 2203, nosso adorável recanto de trocas e aprendizagens. Aos poucos, chegaram as colegas Maria do Carmo, Sâmia e Andressa, seguidas das companheiras riograndinas, Clarisse e Jocasta. Até que o grupo se completou com as demais gurias, Claudia, Adriana e Aline. As expectativas, ao menos de minha parte, estavam a mil para saber quem apresentaria naquela manhã e quem ficaria para a aula do dia seguinte.
Foto: Clara Dornelles
Adriana e eu fomos a segunda dupla a iniciar a pequena-grande proposta de oficina, intitulada “Aprendizagem colaborativa: O que é? Como desenvolvê-la na sala de aula?”. Confesso que estava um pouco nervosa (afinal, ser oficineira nunca foi uma meta presente na minha vida acadêmica – nem mesmo na profissional).
Demos o ponto de partida às 10h.
Iniciei instigando o conhecimento prévio das colegas-professoras sobre a aprendizagem colaborativa. No fundo, eu sabia que elas sabiam – essa construção ficou redundante, mas é exatamente essa a intenção – do que se tratava, considerando que eu mesma já havia relatado sobre essa metodologia em aulas anteriores, mas decidi perguntar assim mesmo. Afinal, toda oficina tem um começo.
Após esse momento de sensibilização, provoquei minhas, então, “pupilas” a jogarem o dominó dos heterosemánticos (aqueles que nós, popularmente, chamamos de “falsos amigos” no ensino da língua espanhola) em duplas – uma vez que a aprendizagem colaborativa – pasmem! – exige colaboração, logo, interação.
Juntaram-se, então, Clarisse e Jocasta, Maria e Andressa, Sâmia e Aline e Claudia e Clara. Entreguei para as gurias as peças, confeccionadas em folha de ofício colorida e levemente coladas em uma folha mais grossa de cor rosa – ah, eu amo rosa!
Foto: Claudia Tavares
Dei as instruções e passei a bola da vez para as colegas. Percebi que as gurias demoraram um pouco para engrenar na atividade – visivelmente desconheciam o vocabulário que lhes estava sendo apresentado. A primeira dupla a cumprir com a proposta foi Sâmia e Aline – o que não poderia ser diferente, já que Aline, assim como eu, é profesora de español. Na sequência, terminaram Clarisse e Jocasta, seguidas de Maria e Andressa. No final, sobraram Claudia e Clara quebrando a cuca para fecharem o dominó, até que as demais colegas começaram a auxiliá-las na conclusão do jogo. Achei válido esse momento. Penso que a aprendizagem colaborativa cumpriu seu papel. Afinal, uma ajudou a outra – e, como muitos diriam, ninguém soltou a mão de ninguém.
Após concluir a parte da língua espanhola, Adriana iniciou a sua proposta lúdica com as horas em língua inglesa. Percebi que as meninas se sentiram mais à vontade – e como seria diferente? Grande parte do nosso grupo é formado por teachers nível master de inglês – e se divertiram, como se fossem alunas faceiras da educação básica. Achei encantador o que o jogo pode possibilitar em uma turma – ainda mais quando essa turma se compõe por profes de línguas.
Ao finalizar essa parte lúdica, Adriana e eu passamos a um questionamento mais sério, indagando as gurias sobre a experiência, os pontos que chamaram sua atenção e as dificuldades que foram encontradas no decorrer dos jogos. As colegas compartilharam suas opiniões: disseram que o espanhol é mais difícil do que parece – e é bem isso mesmo! –, que os jogos são bons para estimular os alunos, que auxiliam na aprendizagem, que podem ser utilizados em um contexto de inclusão, dentre muitos outros aspectos que consideraram importantes evidenciar, tendo em vista sua prática docente.
Um comentário, em específico, chamou minha atenção: Clara mencionou a angústia que os jogos lhe causavam e como isso poderia influenciar em nossos alunos. Parei. Pensei. Refleti. De fato, os jogos sempre são vistos como ótimos companheiros dos professores em aula, mas até que ponto eles não impactam de maneira negativa em nossos estudantes? Como lidar com esse tipo de sentimento vindo dos discentes? Confesso que, até o momento, estou pensando sobre o assunto. É algo complexo, que existe na realidade, e que, muitas vezes, passa desapercebido na sala de aula. Enfim… sigo meus devaneios, mas volto para o momento da oficina – que, a essa altura, já havia quebrado o gelo existente do lado de fora do prédio.
Foto: Clara Dornelles
Adriana e eu, então, passamos para a parte “dura” compreendida por detrás da aprendizagem colaborativa. Falamos sobre a teoria sociocultural, sobre a interação e a colaboração entre os pares e/ou grupos, mostramos a importância dos jogos para essa troca entre alunos e fechamos a explicação enfatizando que também podemos desenvolver esse tipo de aprendizagem por meio de tarefas. Nessa parte, fomos bastante concisas, porque, cá com meus botões, as gurias já haviam caído em si sobre o que engloba a aprendizagem colaborativa – em linhas gerais, claro.
Percebi que a oficina se aproximava do fim.
Inclusive, Adriana e eu havíamos pensado em um desfecho prático para nossa proposta: selecionamos seis textos (três em espanhol e três em inglês) e deixamos, às duplas, a missão de escolher um para criar uma proposta de tarefa dentro da aprendizagem colaborativa. Observei que as meninas estavam engajadas e entusiasmadas a discutirem o que fariam, como fariam e para quem fariam tal tarefa. Fiquei feliz.
Passado o tempo e finalizadas as propostas das duplas, iniciamos um momento de partilhas. As gurias se puxaram, de fato: elaboraram esboços de tarefas de escrita e de leitura colaborativa, seguidas, até mesmo, do uso da multimodalidade para atingir seus propósitos. Fiquei encantada.
Naquele instante, concluí que mais do que ensinar, eu estava ali para aprender. Estava me transformando. Estava me refazendo como professora.
Junto com Adriana, finalizei a oficina. Percebi que o nervosismo do início havia sido extinto ao final daquela 1h05 em que me fiz oficineira. Pensei comigo: deu tudo certo. Pensei mais um pouco: como foi prazeroso fazer uma oficina.
Ao meio-dia e meio (sim, nossa turma se estendeu um pouquinho), saí da aula leve, plena e me veio à mente a seguinte dúvida: Quais serão as próximas oficinas que farei? Sobre essa pergunta, ainda não tenho respostas definidas. O que sei é que ensinarei e, com toda a certeza, aprenderei.
Afinal, ser professor é isso: trata-se de um construir-se e reconstruir-se em colaboração – vejam só! – com nossos pares e alunos todos os dias – todos os dias mesmo, inclusive naqueles mais gélidos, que aquecem nosso cérebro com sabedoria e gratidão por cada momento aprendido.
¹Texto produzido na disciplina de “Metodologias para o Ensino/Aprendizagem de Línguas Adicionais No Brasil!, do Mestrado Profissional em Ensino de Línguas da Unipampa, neste semestre sob responsabilidade da Profª Drª Clara Dornelles.¹