Coluna do Emiliano
As flores simbolizam a coragem.
Somos herdeiros de uma cultura patriarcal que associa a coragem ao enrijecimento, ao tensionamento do corpo e da face. Franzir o cenho para enfrentar os desafios.
É, em suma, uma atitude bélica frente à vida.
Mas a coragem, ao contrário de um tensionamento, não é justamente um relaxamento?
No relaxar há a abertura necessária para que haja o acolhimento das experiências, incluindo as receadas.
Trazendo a imagem das flores, elas se abrem para o mundo, e ao exporem sua vulnerabilidade, embelezam-no no processo.
O mesmo ocorre com a atenção. Desde cedo exigem a nossa atenção nas salas de aula.
Rapidamente endireitamos a postura, franzimos o cenho e adotamos a seriedade compenetrada.
Nessa compreensão da atenção e da coragem está a ideia de que é preciso fazer esforço para obtê-las. Um esforço ativo que tensiona os corpos.
Não fazemos esforço, contudo, para que o ar chegue aos pulmões, para que o coração bata ou para acessar o mundo através dos sentidos. O tensionamento, por outro lado, turva todas essas relações.
No lugar do esforço virilesco, por que não o relaxamento contemplativo capaz de acolher os fenômenos em seu frescor?