Poemas

frases_convite_casamento_escrevendo                                                                                                                         Por Bruno Borin Boccia
Derrubada

Ah saudoso Jaguaribe, Rio de minha vida

Águas imaginárias em que nadei…

Águas em que correm a força de Tupã

O sangue do trovão sem tempestade!

Queria ver-te mais uma vez cirandando,

Sem o progresso da civilização

Arco e flecha sem rumo de morte

A pureza livre de um verso inocente!

Dançam nas cordas o hiato das eras

Yamandú catequizado reza o terço

Empurrando as nuvens do céu

Para dar sol às tíbias Caapongas

Botões de cura em tempos negros…

Mistérios da língua Tupi, caraguatá

Para quem sabe da chaga e do luto,

Mitos que morrem entre balas e anúncios

Mata derrubada, Adeus Poti…

Iracema é morta!

Rubra cor pinta as margens

Do saudoso Jaguaribe…

Derrota

A aprendizagem que me deram? Eu desci dela pela janela das traseiras da casa

– Álvaro de Campos – Tabacaria

Perdido em pequenos timbres de ouro

Navego no sonho com um luar errado

Eu sou o que falta na paisagem cristal

– Amontoado de vértices em verso branco

Onde singra rubro, o tropel das vibrações

Em ritmos iriados como mandamentos…

Ó luar errado, queria acreditar  na ciência cosmopolita dos signos

 – Mas esse cansaço, como uma súbita e inexplicável ternura

Bruma o meu entendimento desgraciosamente!

E como num grande espelho quadrangular, vejo-me

Sentado a sorver o pior da humanidade, e um punhado de @@@@

Que vértices cegantes! Que calor desumano!

Caiu um prédio na minha vida! Ninguém nem reclamou!

Eu só lembrei de baloiçar o pasmo de minha alma

Estirar uns tapetes para mais um assombro, como outros que receberei!

Mas o que sempre quis era vomitar a minha própria carne

E ver o Jaguaribe da minha vida escorrendo pela calçada

Que erro, eu nunca mais me imaginei enroscado nas serpentes do sentir

Mas estavam lá todas as mambas, Álvaro estava certo o tempo todo!

O Cansaço desbota os cetins do nosso espírito…

Ainda lembro das minhas garras de marfim e do sonho branco

Que me levavam para um êxtase infantil e prateado

Um Lord reduzido a imagens e montras com a minha dor estampada!

Hoje choram em mim cores perdidas, rimas rejeitadas

Todo um estilo de ouro esquecido, arrancado de memórias tristes

Dos poetas de outrora, gente desquitada da vida

Gente que queria virar gramaturas cansadas e arfantes

Acordes de uma Paris ainda viva e cintilante,

A latejar cristalizações enevoadas e difusas, e um cansaço

Um espasmo cardíaco que dói mais na alma que no corpo

´

Ó lua errado, me desculpe! Não tenho rituais a oferecer

Porque não há nada que possa fazer pelo Tehom do meu Vocabulário!

Veja, toda essa beleza inatingível… Não é para mim!

Eu que sou um punhado de cordas partidas

Queria atapetar uma escada, apenas para rolar nela o meu corpo torcido

Porque mesmo se levantasse da cadeira e vivesse

A Beleza passaria por mim, mas eu jamais me tornaria a Beleza…

Canção do errante

A vida é variável assim como o Euripo.

Apollinaire

I

Cruzando a ponte febril de nuvens

Me espargi como um rio no oceano

E como lembranças a flutuar, surge

A vida, em cartas de um baralho decano

Nas ruas sem número do meu epicentro

O sol dos dias brilha dilacerado, tentando

As cavalarias alcoólicas que, trotando

A esmo, fiscalizam os proclamados remendos

Em vagas faces, de sombras vivazes compondo

O cipreste oloroso e destituído de sentido;

Um monumento profano é soerguido

No lugar de uma proscita ruína sem rosto!

Enquanto dançáveis melodias variavam

Ditando os passos a serem dados

Esqueci dos comprados alambrados

Em um padecer que os céus me aleijavam…

II

Não sei o que é mais fugaz,

Se é a vida a nos entoar

– A final canção

Ou o coração a ditar

– A feroz paixão!

Em mãos de outono, se perdem

Os signos colhidos do junco

As queixas de verão cedem

Ao corado sumo

E acordes bailam nos yeah yeahs da vida.

Morrem muitos cantos, muitas melodias

As portas batem sorrindo terrivelmente

O amor dura um lapso de segundo

O tempo de uma visão subliminar

Ser esquecida, mas uma eternidade

Para ser posto de lado como uma memória

Vazia.

Feias são as beatitudes, senão compostas

De sonhos honestos e romances perdidos

Do sangue dos deuses que se compõem

As artes que ferem a alma dos astros

E revelam a mentira das estrelas.

Eu me eternizarei sob o espinhal em flores

Recuso a tenra grama e os campos lilases

Do verbo, quero o ritmo da existência

a bradar cem anos de consolo para uma dor

Que não se alcança.

III

Meu revelar é também um esconder.

Bruno Borin

Precisando de favos de azul

Vestido de incompletudes

E sentindo que perdi my soul

Reconheço essa tal solitude

No desamparado castigo

Nas próprias condolências

Acho as profundas essências

Do meu antigo postigo!

Distanciando do matiz verde

Segmentado em res urbana

Componho minha verve

Do intransponível engano;

Desejando o purpúreo lupanar

Das ideias fátuas e merencórias;

Proclamei sem dolo um pressagiar

Instaurando o ritmo destas rapsódias

Nos verbos de ação mais fantasiosa

Para mendigar cores que nunca tive

E não absconsar na mesmice,

Perdendo minha mocidade preciosa…

Nigredo

À Baudelaire

Flectere si nequeo superos, Acheronta Movebo

– Virgílio

Preso na noite de um verão gélido

Sonho, numa onda calma e negra

A quadra de uma soberania hedra

A galgar os céus num voar tépido:

Ansiando fazer sentidos de grandeza

Atrapado na densa, espagíria sensação

Baudelaire! Te penso em sua rudeza

A poesia é o único abrigo da invenção!

Mas não qualquer criação! O etéreo Eu!

Aquele de paletó ideal, A quem abraça

Somente o grande inverno do plebeu

Que cultiva a dor em campo de lavra!

Porque na folhagem incerta do destino

Floriu! Não um lugar no de todos, Mundo.

Onde o corpo do beijo dorme, bem fundo:

Fonte do vinho mais velho, bordô menino!

Esotérico lugar, de difícil entendimento,

E o pior! Sem óbolos para o barqueiro!

A estética é o único presente rudimento,

Das auroras roubamos cores pr’o tinteiro!

Fiz deste tinteiro meu estimado ébrio barco

Porque não quero do real, os parcos cobres

Estes só salgam os coágulos de meus odres;

Perdido em brumas violentas,  reteso o arco…

Mirando nos lamentos, mataria mil sóis

Para agarrar apenas uma noite eterna!

Eu teria gostado de acordar nos arbóis

De uma nova percepção, e ser primavera

Eu teria gostado de despertar um povo…

De tecer hipocampos sem algum pranto

Mas prossigo num dançar pálido, covo…

Ainda faço do torpor, o meu querido antro.

Bruno Borin Boccia

As Bruxas

o Pacto

Por desejo da mais alta liberdade,

Por não mais chorarem na cruz,

Vítimas ofuscadas na sagrada luz,

Aceitaram uma profana paternidade!

Mas nem o velho bode templário

Foi capaz de proteger as mulheres,

Condenadas ao fogueiral sacrário

Por abraçar uma vida de prazeres!

Nova Jerusalém pelo mal sitiada,

Um combate de fé foi travado,

Venceram os homens de letras;

O mal expurgado caiu por terra!

o Sabá

No jantar da nova fé, a bonança

As tradições pagãs resistiram

O novo mundo aprendeu a dança

No tear das Moiras, rituais serziram

Hécate, na noite mágica passeia

Cantos e cirandas, deuses antigos

A bramir novas pulsões, nos enleia

Palavras da velha lei abrem postigos!

Noosfera refeita, brilha e encanta

Na noite de Beltane. Mosaico alado

Da imaginação carmim, que imanta

O poema da vida, sempre inacabado.

o Grimório

Do verbo fez-se grito, solário,

A salamandra tatua ensinamentos

De sangue, geometrias estranhas

A comunhão do iniciático rio!

Ninguém é o mesmo após lê-lo;

Asa de espanto e conhecimento

Perpetua segredos nas entranhas

Caminho de dor a tecer os elos!

Herança de estrelas escritas,

Dentro do prisma, universo

Abaixo o céu, dedilhado estro.

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