Mulheres que somos

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Por Aline Fontoura de Leon


Não saímos de casa pelo simples prazer de trabalhar, mas porque, sufocadas em um destino cruel, tivemos que encontrar meios de lutar por uma vida melhor. Ganhamos a independência econômica para alcançar sonhos e conquistar desejos outrora sufocados em nome da falsa preservação da sociedade.Percebo, apesar dos avanços, um mundo machista. E o sinto assim em vários aspectos. Nós, mulheres, nascemos com a pesada “missão” de educar, cuidar, proteger e, mais recentemente, prover. E não aceito esse bordão popular “quiseram, agora aguentem”.

   A verdade é que, nesse “conquistar”, acabamos fartas de atividades, uma vez que já tínhamos tarefas múltiplas não compartilhadas pelos homens e, assim, continuou a ser, ou seja, somaram-se os feitos a realizar.

   A exigência passou a ser maior, uma vez que, imbuídas de um espírito de “heroínas”, pensamos que poderíamos dar conta de tudo e esquecemos que somos humanas e conseguimos realizar na medida de nossas limitações.

   Atualmente, depois das conquistas, penso que estamos na fase de livrar a culpa e fazer somente aquilo que está ao nosso alcance. A verdade é que ainda estamos aprendendo. Passamos a entender que somos profissionais, mães, filhas, esposas, amantes, amigas e… falíveis.

   Aceitar a vulnerabilidade é abrir espaços de construção mais autênticos e reais onde, de fato, possamos buscar a tão sonhada igualdade.

   Mulheres aquecem a estatística da violência todos os dias. Apanham de seus companheiros que, sem nenhum escrúpulo, machucam-nas. Porém, a violência mais perigosa é aquela escondida atrás dos hematomas, uma vez que, dessa, nenhuma mulher está livre.

   É aquela que nos ensinaram desde meninas, de que, para manter a harmonia do lar, são necessários “sacrifícios”. E vão desde limpar a casa, preparar o almoço, cuidar dos filhos, estar bonita, sorridente e fervorosa sexualmente, a ser, também, a mensageira do amor, da fé, de todos os nobres sentimentos e tudo mais.

   É fácil enxergar a crueldade dessas afirmações que impõem regras desiguais, desumanas e impossíveis de alcançar, deixando-nos reféns de nossa própria consciência.

   Homens sentem-se livres para trair, magoar, e, muitas vezes, machucar a alma de suas companheiras, permanecendo a cicatriz, para sempre, a superar. Onde está escrito que nós, mulheres, temos todos esses deveres? principalmente de estarmos, sempre, dispostas e sermos amigas e felizes.

   Sinto decepcioná-los, não somos tudo isso, aliás, nem queremos.

   Livrar-mo-nos dessa culpa é essencial para desenvolver nossas capacidades e abrir espaços criativos onde possamos, de fato, exercitar nossos próprios valores e ideais.

   “Empoderamento” feminino é termos a noção de que somos livres para brilharmos, amarmos e sermos felizes. Para isso é necessário nos livrarmos do estigma social que nos impuseram há tanto e que, até hoje, querem nos fazer carregar.          

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