O brasileiro não fala português

Autor:  Antônio Ricardo Russo, prof. de Português, jornalista, poeta, mestre em Ciência da Linguagem

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É comum encontrar pessoas que, ao saberem minha profissão de professor de Português, declaram: “Você é professor de Português? Então eu tenho que cuidar o que falo.” Nesses momentos, sinto um misto de poder e de frustração. Parece existir um trauma profundo relacionado ao ensino da língua materna – em algum momento da vida, houve um professor que ensinou o aluno a odiar a Língua Portuguesa, “a pior língua do mundo”.

O leitor imagina que o professor de Português fala da mesma maneira o tempo todo? Como será que ele pede à mulher que lhe alcance o prato com a salada? “Por favor, cara cônjuge, queira alcançar-me o prato que porta tamanhas delícias compostas de hortaliças e outros frutos da terra”. Professor de Português não é fiscal da língua para sair dando multas por aí em quem comete “erros” na norma culta

Ninguém fala da mesma maneira o tempo todo, porque a língua possui variantes diversas, determinadas pela região, pelo grupo social, pela faixa etária, etc.

Então, compete-nos quebrar certos mitos. O leitor está pronto? Vamos praticar atos de exorcismo.

O brasileiro tem dificuldade de se expressar corretamente.

Afinal, que dificuldade é esta? Quando observo uma criança de três anos de idade comunicando-se perfeitamente bem, fazendo concordância verbal, por exemplo, percebo o quão enganosa é essa afirmação.

Ninguém melhor do que um professor de redação para observar as dificuldades dos estudantes, dos adolescentes para a comunicação escrita. Entretanto, ao observar meus alunos na hora do intervalo, percebo a capacidade de comunicação, a criatividade deles. Eles não falam Português? Que língua falam então?

Os sem-terra e os sem-língua

Vamos a um outro fato. Eu já era professor de Português e fazia o curso de Jornalismo. Certa feita, tivemos, no auditório da Faculdade de Comunicação da PUC, uma palestra (ou um encontro) com um sem-terra. O objetivo era relatar a experiência de acampado. Nos olhos da plateia, havia um misto de curiosidade e de deboche, pois estávamos acostumados a ver, naquele púlpito, senhores jornalistas importantes e engravatados. Tínhamos diante de nós um sem-terra, usando chinelo e empregando uma linguagem comum a tantas pessoas que não tiveram escolaridade, três refeições diárias e talco após o banho.

Conforme a palestra seguia, as expressões mudavam do deboche para a comoção. O relato emocionado daquele sujeito deixou a plateia impressionada. Era um indivíduo sem-terra e sem-língua.

Ele não precisou da língua padrão, do Português casto ou culto para comunicar-se.

Então o que é falar bem?

Quem fala Cráudia é analfabeto.

Discutir língua é discutir preconceito. Se um indivíduo (desses que passaremos a chamar sem-língua) falar Cráudia, pranta e chicrete, a nossa reação revelará um risinho irônico seguido de um carimbo na testa da vítima: analfabeto.

Essa mudança /L/ por /R/, tão comum entre os sem-língua, também está marcada na história de nossa língua. Brando vem de blandu(Latim); fraco, de flaccu, (Latim); obrigar, de obligare (Latim). E mais: Camões escreveu ingrês, pubricar, pranta, frauta. Ninguém riria de Camões, suposto. A esse fenômeno linguístico dá-se o nome de rotação.

A questão deveria ser tratada cientificamente, contudo é social, econômica e, sobretudo, política.

Ora, espanto geral, então era Cráudia! Exatamente, e mais: Creusa. Em dado momento, o R virou L. Contudo, se alguém falar Cráudia, imediatamente vamos tachá-lo de burro, de analfabeto.

O Brasileiro fala errado.

Há outro mito curioso. O brasileiro fala errado, porque não pronuncia corretamente as palavras. Por que dizer “bunito” se a palavra é bonito? Ninguém, seja em Inglês, em Francês seja em qualquer idioma culto fala como escreve. A escrita é a tentativa, insisto, tentativa de reproduzir graficamente a fala. Tentativa frustrada, pois a fala é muito mais rica, mais dinâmica – e muito mais velha que a escrita. Não há como reproduzir o ritmo, a aceleração da frase, a pausa para destacar alguma palavra. Língua escrita e língua falada são diferentes. E assim devem ser tratadas: diferentemente.

Algumas redes de televisão estão insistindo na palavra futebol, dita assim, com o E, em vez do velho e bom /futibol/. Afinal de contas, o povinho fala errado.

Essa palavra é aportuguesamento de foot-ball. Ortograficamente, foram fundidas numa única palavra, mas foneticamente continuam duas palavras foot e ball. Esse E final de palavra soa baixinho, como um i. Trata-se de um E brevíssimo – não há para ele representação gráfica. Logo, escrevemos E, no entanto, ao falarmos, soa como I. Na escola, o aluno aprende que fonética e ortografia são questões diferentes e tratadas assim na própria Gramática.

O treinador Campeão Nacional e das Américas, no início de sua carreira, insistia para que os jornalistas o chamassem de TITE, com E no final.

Ora, novamente temos o E brevíssimo. Ninguém diz chutê. Da mesma maneira, o torcedor diz “Grêmiu”, “Vascu”. Esse O brevíssimo no final da palavra vira U. O resto é bola rolando ou “rolandu”?

Os Modernistas de 22

Lá vamos nós para a Literatura. Os Modernistas de 22 (são 90 anos da Semana de Arte Moderna) queriam uma língua brasileira, sem esse pedantismo babaca do português europeu.

É questão de nacionalidade: ter orgulho de nossas raízes, de nossa língua, de nossa cultura de um modo geral. E lembrarmos que somos brasileiros não apenas em ano de Copa do Mundo.

90 anos depois dos revolucionários e malucos paulistas que fizeram a Semana de Arte moderna, o discurso deles continua atual.

Fonte: https://russoinverso.wordpress.com/2012/07/24/brasileiro-nao-fala-portugues/

Comentários
  1. Paul Gilletta

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