Coluna da Taiza

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Por Taiza Fonseca

 

Que horas ela vai! #1

Olá, leitores do JUNIPAMPA, antes de começarmos nossa conversa nesta coluna, gostaria de apresentar-me.

Meu nome é Taiza Fonseca, sou graduanda do curso de Português e Literaturas de Língua Portuguesa, e é um imenso prazer ter este espaço disponível para conversar com vocês.

Falar sobre mim, como vocês perceberão, está diretamente ligado a falar de minha paixão pela docência, despertada logo cedo em minha vida, e, por isso, de antemão, os convido: que tal falarmos sobre educação escolar, universitária e exclusão?

Sempre quando penso em minha trajetória acadêmica, lembro-me dos tempos de escola, em que a universidade me parecia um espaço distante, que não me pertencia, devido ao fato de eu ser pobre e viver num contexto que não incentivava seus jovens a ingressar no Ensino Superior e, sim, a entrarmos diretamente no mercado de trabalho. Em minha concepção, o espaço universitário pertencia àqueles que moravam no centro, o que para mim, uma jovem da periferia, significava uma clara distinção de classe. Isto é, os mais abastados seriam os letrados, enquanto os que tinham as mesmas minhas condições não deveriam pertencer a estes espaços.

Não era fácil, mas isso começou a se transformar quando conheci professores que me inspiraram a ir além e que, constantemente, mostravam que a academia também me (e nos!) pertencia por direito e, foi exatamente este o momento em que me apaixonei pela ideia da docência. Então, com muita luta ingressei na universidade com um sonho em mente: tornar-me uma professora que mostraria aos alunos que assim como eu foram desacreditados, que as instituições superiores também pertencem a eles e que nossas trajetórias, enquanto pobres e batalhadores, são motivos de orgulho e jamais vergonha!

De lá para cá, o tempo vem passando e esse sonho continua forte em meu peito, comigo, já tendo, inclusive, oportunidades incríveis em sala de aula para colocar esses ensinamentos e incentivos em prática. Entretanto, nosso país vive um momento que contrapõe minha visão – e, igualmente, de muitos educadores – que tende a tentar levar o jovem a crer que ele não deva sonhar para além da sua realidade, como pode ser observado, recentemente, a partir das palavras do Ministro da Educação [1], que afirmou:

As universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual, que não é a mesma elite econômica [do país]”.

Esse tipo de posicionamento reforça uma lógica de que o ensino superior não pertence aos pobres e, sabemos, que essa exclusão precisa ser urgentemente desconstruída e abominada. Como contraponto a isso, temos na arte, no filme Que horas ela volta?, dirigido por Anna Muylaert, e estrelado por Regina Casé, a retratação desta questão. Durante sua narrativa, é mencionado que os patrões – ricos – não querem que os filhos da empregada, naturalmente advindos da periferia, frequentem o mesmo espaço que os seus filhos, privilegiados, o que continua sendo uma realidade em todo o Brasil.

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(Foto: cena do filme Que horas ela volta?)

O longa brasileiro em questão retrata, a partir de uma forma ácida, a dura realidade que vivenciamos atualmente em nossa sociedade. Essa realidade está repleta de desigualdade e é composta por uma supremacia da elite sobre os pobres, caminhando ao encontro às diretrizes apontadas pelo atual governo.

Em contraponto a esta nuvem cinza e anti-intelectual que parece sobrepor nossas cabeças, e por meio da esperança por dias melhores, resistimos a esta onda conservadora que tem crescido muito nos últimos tempos no Brasil.

Sonhar nunca foi tão necessário, pois pessoas sonhadoras persistem, e assim, como em meus mais ínfimos desejos, diversos educadores, jovens e políticos buscam igualdade, lutando constantemente na defesa dos direitos democráticos, através de ações afirmativas, para que TODOS possam ter acesso a uma educação inclusiva e de qualidade, tanto nas escolas, quanto nas universidades.  

Enfim, neste primeiro momento, trago este relato, que acabou por se tornar algo bastante intimista, ajudando, creio, para que eu e você leitor possamos nos conhecer e refletir sobre a desigualdade que paira sobre o nosso país.

Em nosso próximo encontro, voltarei a discutir sobre questões políticas e educacionais. Que criemos aqui um espaço apto ao diálogo e a trocas de reflexões.

Até breve.

[1] http://www.cartaeducacao.com.br/reportagens/as-universidades-devem-ficar-reservadas-para-uma-elite-intelectual-diz-ministro-da-educacao/

Taiza da Hora Fonseca é Acadêmica do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Federal do Pampa, fez parte do Diretório Acadêmico de Letras no período de 2015 a 2017 e participou como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) no período de 2016 a 2018. Atualmente faz parte do Movimento Estudantil da Universidade e seus interesses são: Temas Transversais, Política e Movimentos Sociais, Literatura, Poesia e Arte.’

Comentários
  1. lorhan

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